Lá vem pela calçada o poeta Bento
Vem para tomar seu chope domingueiro
E com quem ele esbarra na esquina?
Com o poeta Bira que já vem chegando
Para tomar a catuaba santa de cada dia.
Já começaram a trocar idéias e versos
E falar mal dos poetas que estão distante.
Eles conversam tanto que a garganta seca.
Então puxam as cadeiras, sentam à mesa
Tentam se esconder do sol forte de Itaobim.
E quem é que chega tropicando alegremente
Cantando fados para as musas invisíveis?
Quem? Não é outro senão o poeta Gonzaga
O mais arteiro poeta que pisou nesta terra
Que traz uma garrafa de pinga da boa
E que diz, faceiro, meus amigos, saravá,
Esta veio de Salinas e é temperada com raiz!
Aí os rapazes ficam alegres à beça e bebem
Encantados com as moças que estão a passar.
O poeta Bento adverte que não bebe pinga
O poeta Bira diz que, não sendo sólido, bebe
Mas que, sendo sólido, come, e de preferência
Torresmo. Todos concordam à esta altura.
O poeta Gonzaga não se avexa e proclama
Aos quatro ventos: então vamos misturar!
E eis que começam a misturar, e cai a tarde.
Quando chega a noite a bagunça está formada
E os poetas ousam divergir entre si em voz alta
Pois a pinga acabou e a cerveja está morna
Não há mais farofa nem torresmo ou catuaba.
Os ânimos se exaltam por qualquer bobagem
E olha lá o poeta Gonzaga sacando da peixeira!
Virge maria! O poeta Bento deu uma pernada
Já o poeta Bira catou uma lasca de lenha.
Você que nunca viu nervoso o poeta Bento
Nem queira ver, mais vale o fim do mundo.
Mas – Deus é pai – lá venho eu da minha serenata
E chego a tempo de evitar dois homicídios
Proclamo a paz, e os bardos pagam a conta.
Antes de ir, um brinde, aos amigos, a saideira.
Eu me esquivo, poeta esperto anda sozinho
E não aprecio a companhia dessa turma valente
Uma hora eu morro, mas não há de ser hoje.
Viver bem nesses tempos atuais é uma arte
Poetas, amigos, poemas à parte.
Comentários
É bem provável que o poeta Gonzaga tenha sacado a peixeira, não por valentia ou para amedontrar os companheiros, mas para fazer a encenação da poesia “PEGA A FACA JESUS E REPARTE ESSE PÃO”