I) Há, sob a névoa que encobre essa manhã,
uma outra manhã, mais resplendente,
Seja pelo sol amordaçado em fumaça
ou pelo abismo em total silêncio.
Lá vou eu, morro abaixo, automóvel,
para a cidade grande e indiferente.
Sei que esse dia enorme e venturoso
logo há de me engolir como um polvo.
II) Há, após a névoa que emoldura essa manhã,
uma cidade a me aguardar, ardente,
Que se fosse líquida, seria uma cachaça
ou o canavial ao qual afaga o vento.
Lá estarei em breve, rua afora, intratável,
no consultório, obturando o dente.
Sei que logo a noite descerá seu toldo
e me abraçará como se abraça um polvo.