uma poesia, por caridade,
que me aqueça como o sol das manhãs,
que varra da terra toda a ignorância,
que acorde os meninos para a escola,
que abra janelas para as descobertas,
que me surpreenda com seu mistério,
que envenene o culto das celebridades,
que faça brilhar as coisas simples.
uma poesia, por caridade,
que tenha cheiro do mato quando a tarde cai,
que leve a brisa da esperança pelos vales,
que aguarde mais um minuto no ponto do ônibus,
que traga bagagens e sonhos esquecíveis,
que tenha algo a dizer além do eu te amo,
que fale do que não se ousa falar em silêncio,
que não cite nomes, nem peça perdão.
uma poesia, por caridade,
que me faça lembrar da minha terra, meus amigos,
que me traga de volta o abraço terno do meu pai,
que me faça caminhar ausente entre o poder e a moeda,
que não me faça sorrir ou chorar,
que não tenha vergonha de ser o que é,
que não se apague com borracha,
que sobreviva em vídeo, em tela, em carvão, em verso.