peço ao altíssimo
que povilhe de estrelas
o céu da pequena cidade
que derrame como chuva
fogueiras crepitantes
ao longo da rua caetés
e, se não for pedir muito,
que as noites de são joão
sejam eternas
no meu e no seu coração
e aproveito também
para rogar aos santos reis
minha eterna gratidão
convido os amigos
para a outra vida que virá
assim que esta vida se for
quero virar a esquina
e ter, ao alcance da mão,
ali na parede da loja
à espera do advento
algum cartaz do cinema
e voltar ao velho mundo
em que tudo tinha nome:
a padaria de dielson
a tenda de rosalvo
a farmácia de holmes
o bar de quincas
e a caixa econômica
que era do meu pai
suplico ao criador
a imensidão da casa
curta, rasa e estreita
e o quintal inexplorado
onde surgiu o universo
e de quebra, faço adendo
para também almejar
que seja início de ano
e os olhos possam rever
a folia dos coquis
regida por mestre isnaldo
possa, aos quase sessenta,
ficar novo em nova vida
e então recomeçar
algum dia, outras histórias
mas tão boas quanto essas
que gostei e gosto tanto
a ponto de não esquecê-las
a ponto de aprender
que lembrar é reviver
e reviver é o bastante
eu reviva, e para sempre