Um dia triste e duro como aço. Nem os pássaros cantam.
A luz do sol é como fogo e queima.
A saudade invade casas, apartamentos e sobrados,
Nuvens caem, estrelas amanhecem nas estradas como flores
Sem árvores, peixes batem à minha porta.
É a fome, uma solidão maior do que a morte.
Meus amigos cairão, um a um, atingidos pelos relâmpagos
Sob as montanhas na tempestade de fios dourados
Para logo depois voarem como se tudo fosse apenas sonho.
Mas é real. Não estou louco. Os fantasmas voltaram.
O ar sobe em cubos translúcidos e vão como espelhos
Nos refletir para sempre em agonia nos rios de chocolate.
Ai minha doce vida, vai me abandonar, navio em chamas.
Vejo chegar a tarde com milhões de pernilongos sedentos
E a lua se esconder nas mãos do imenso universo que desaba.
Vem a chuva, noturna, densa como o mais frio oceano
Dança em torno de meu corpo sem asas e me sepulta no ar
Enquanto corro em ruas sem fim e me perco.
É o dia mais triste, tudo acabará. Nem o vento e a sua música.
Nada além do terremoto. Canto em labaredas.