O mundo para mim é o mundo que vejo:
nem bem os olhos veem, a alma capta o sobrevoo,
em mim interpretado como sinal e respiração,
o mundo que me cabe em que me caibo,
o único que sei e que me sabe,
o mundo palpável.
O mundo para mim é também o que me escapa:
assombrado desde a infância, escuro, denso,
em mim eviscerado como palavra e memória,
o mundo intraduzível aos meus idiomas,
o abismo de onde caio e para onde vou,
eu, a minha ignorância.
O mundo para mim está tatuado à minha volta:
exílio do que era sonho, anotações de passagem,
em mim retornado absoluta perplexidade,
o mundo refletido na ambição, no desejo,
um dos tantos mundos neste mundo,
dos homens desiguais.
O mundo para mim é o mundo que enfrento:
para desafia-lo desde o primeiro dia nesta vida,
é que vim para mudar e ser mudado,
o mundo de que nada sei e que me ignora,
o último que terei que suportar,
este fim de mundo.