A voz do saxofone
Da janela de Hidelbrando.
Escuto a minha infância
No ar se desmanchando.
A velha casa desbota
Debaixo do azul do céu
O inferno é mais embaixo.
Escuto seu crepitar
Como fosse um São João
Em mil e uma fogueiras.
Os rapazes ficam murchos
As moças perdem o viço.
A juventude é um rio
Que nunca passa de novo
Como areia de ampulheta.
E ainda escuto Agnério
Tentando parar o tempo
Na incrível relojoaria.
Escuto o vento arrastado
Trazendo a noite consigo.
E escrevo meu poema
Para a pequena cidade
Que nunca me abandonou.