Despedidas

Publicado por Wesley Pioest 22 de abril de 2020

Despedidas

Conforme me disse o amigo
Conceituadíssimo poeta bomdespachense
Que almeja cadeira na Academia
Não devo sair de casa
Pois estou à beira dos sessentanos.
A isso acrescenta minha consorte
Alguns comentários muito severos
Sobre passado longo e futuro breve.
Diria mais: futuro inconstante
Pois não há nada mais incerto
Do que o futuro, esse meu inimigo.
Do passado posso ainda acrescentar
Que esse companheiro jamais existiu
Além de mim – o passado sou eu –
Essas minhas memórias intrincadas.
É o que me dizem os velhos amigos
Sempre tão benevolentes comigo.
Pude apurar nesses longos dias
Que as ruas vazias já não me cabem
No meu corpo deambulante
Como se já estivesse de mudança
Para outra casa, a da minha alma.
Sou um anjo caído na trincheira
Das modernidades deste mundo.
Estou cansado, digo à minha sombra
E que me leve – de ultraleve.

Comentários
  • Antonio Angelo 1700 dias atrás

    Nestes umbrosos tempos da Covid 19, prezado Poeta, não há como subir bahia e descer floresta, como dantanho.
    Em tempos de vida vivida, lhe sobreponho os meus.
    E à vista das cidades desertas, creia-me, só nos resta dançar um tango argentino. Como propôs Bandeira.
    E – também de importância suprema – ouça sua consorte!
    As mulheres navegam com mais destreza em meios aos tempestuosos mares pandêmicos.

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