à noite negra da minha memória
para aplacar-lhe a desmedida fome
àquele dia em que fui feliz
cuja imagem tento agarrar
mas que se afasta lentamente
detrás de apagadas evidências
aos companheiros devastados
pela solidão, pelo álcool
pelo desamor e pela saudade
à irrecuperável soma de perdas
e à sentida ausência de deus
aos muitos milagres prometidos
os que, esperados, nunca vêm
aos que perderam a razão
e vagam pelo abismo sem fim
da loucura e da tragédia
no mais cruel dos abandonos
aos ouros de minha lavra
e ao catre onde guardo meu sono
(a poesia)
e aos poetas que vieram comigo
pecar e serem pecados
heróis, porém erodidos
por dentro, mais que por fora
em pretérito mais que perfeito
a tudo que foi desfeito
Comentários
Sim, é preciso nos determos, por um minuto que seja, ante aventuras e desventuras que forjam a vida. Precisamos também deste minuto para decifração do que nos é transmitido – com cumplicidade – pelo poeta. Que nascido no Vale, dele não se aparta. Nem de seu destino de legítimo artífice da Macondo mineira chamada Rubim.