Homens que assobiam, que juntam seixos à margem da estrada,
Que nuncam se esquecem, que postam cartões e voam e voam,
Vão a lugares onde existem de outra maneira, depois voltam,
Supresos, de cueca em frente ao espelho: este, quem será?
São os gladiadores, esses incultos heróis de um novo tempo,
Poderão ser minotauros presos para sempre em seus labirintos,
Mas não passam de água, em pele e ossos, desidratados: pó,
Que voltam à terra tão logo dela se distanciam, vivos ou mortos.
Homens que regressam ao tédio, pelo ar, pela arte da navegação,
Isso quando vivos. Desabitados da alma, voltam horizontais,
Na solidão que é origem e fim de todo homem. Este, quem será?
Tudo em seu entorno é frio como a neve, quente como vulcão.
O seu óculo ficará sobre a mesa à espera do pergaminho, e a sua
Calça jeans aguardará o tráfego do dia, sem nele estar residindo,
O homem em falta, a ausência sua, seu cheiro, suor, evanescente,
As suas marcas, cicatrizes, ainda que falecidas de sentido e odor.
Homens que havia, que já não há, homens de palavra, graves,
Que sempre hão de lembrar sua promessa derradeira: qual era?
Indo e vindo como coisas dispostas na terra plana pelo criador,
À espera do abismo que sobrevirá, a cada final dos tempos.
Homens como eu, como você, como aquele seu vizinho enjoado,
Fragmentos a regurgitar na imensidão silenciosa da galáxia –
Todos com medo de barata, do escuro, de amar demais alguém,
Combatendo em guerras para morrer, pois que morrer é descanso.
Homens embebidos em silêncio, homens em farrapos, à mesa com
garfos e talheres, sentados no trono, tão iguais quanto diferentes,
Sujando o planeta dia após dia, acompanhados de suas mulheres,
Gastando o verbo com a multidão, religiosamente, crucifixos.
Imersos na cavidade silenciosa da noite, homens pálidos de susto,
Os que vieram da rua, os que vão ao parque, os que acordaram,
Outros, os que não dormem, essa gente estranha e imensa cujos
Fantasmas os procuram, miasmas, perdidos de si, são enigmas.
Agora mesmo, ao ler o poema, o homem debruçado sobre o ombro,
Curvo, um esse de reentrâncias, cheio de idéias e glória de existir,
Respira feijão, arroz, usa o pequeno cérebro, vagam os olhos da tela
À parede, nunca se vê, não se sabe, imerso em si, este, quem será?