O medo é angústia que tolhe: enforca.
Agarra pelo pescoço e se espraia fundo
no labirinto, vai ao poço escuro, água
que não seca. É insônia, noite voraz e
bruma de covardia: de onde vem?
Homens na caverna se recolhem e suam
por todos os poros: sou eu ainda acordado.
Noite que lambe feridas, produz sombras,
faz alarido com seus pássaros, mistério,
medo incrustado em forma de labareda,
me consome: derrota de cidadão caído.
Não sou ninguém e estou perdido, sem defesa,
sem uma arma sequer à cintura.
O medo é uma corrente que guia e molda.
De onde vem? Do corredor sem fim,
do estômago crispado, gelo, brasa, melancolia,
do minotauro que nos persegue em meio
à multidão perdida. Sou eu que me escondo.
Um eclipse. Sou eu que me abandonei, sem lutar,
como quem desce ao inferno por um
punhado de moedas podres: um descanso.
O medo nada em minhas águas profundas
e no abismo reconhece de onde tudo vem,
a origem e o fim, o nada esplandecente,
a estrela que nos trouxe o estranho lamento.
O medo não mata. O medo tortura, lento,
agulha e linha da nossa torpe civilização.
A ele me curvo, todo dia, um seu criado.
Por ele lavo todo dia a minha mão.
Comentários
Poeta de mão cheia, liquidificando as palavras deixa transparecer o seu precioso talento. É do Vale, é poeta e ponto final.
Wesley Pioest, que nome poético, cala fundo, quem tem coragem de reconhecer o seu medo? Quem com seu medo não viaja todos os dias? Como escreveu Leminski, aquele nosso herói cá ido: não me tirem essa dor, ela é tudo o que eu tenho.
Wesley Pioest, encantador de palavras em sua lavra poética, continua tecendo, cosendo com a agulha do tempo uma bela poesia, digna de espantos e exclamações.