Na noite de águas e relâmpagos
E vejo sobrevoando na garoa
Em torno da lâmpada do poste
A inevitável borboleta noturna
Eu, como a mariposa, procuro a luz
E posso vê-la ao longo dos telhados
Vencer a batalha contra a escuridão
Como eu, quase todo santo dia
Travo a minha contra o esquecimento
Que penetra lentamente a medula
Nos espelhos vítreos do hipocampo
A devorar o passado e a memória
Eu, como cavalo marinho, navego
Absurdo, vulnerável, humano
Contra as ameaças de extinção
Por este limbo sem a ele pertencer
Da mesma forma que uma mariposa
Enfrenta a chuva miúda e fria
Sem ao menos perceber logo adiante
O olhar aprisionado na janela
Onde um corpo magro se debruça
E a noite avança sobre raios e trovões.