Nas minhas andanças no interior de Minas entre os anos de 2001 e 2010, desenvolvendo trabalhos em várias cidades do Estado, deparei-me com gestões das mais variadas formas, dos mais variados partidos, mas uma característica em comum: o despreparo dos gestores e de quem participa das administrações.
Não vou entrar na esfera do despreparo político e nem administrativo, mas no despreparo técnico. Eu vim de uma formação técnica e científica e evolui na minha carreira para uma atuação gerencial e empresarial. Isso me deu visão crítica para entender que as decisões ao nível estratégico e administrativo, quando se trata de algumas temáticas como meio ambiente, saneamento, saúde, educação e outras, deveriam ser tomadas a partir de parâmetros técnicos, científicos, provados por métodos consolidados e pela prática cotidiana.
A não valorização desta premissa tem induzido vários gestores públicos a tomar decisões equivocadas, ou mesmo a omitir necessidades e prioridades nos municípios que administram.
Em contraponto, as gestões que buscam a ciência para a se chegar à excelência administrativa, tem se tornado referência em planejamento urbano e territorial.
Outra vez entro na esfera do planejamento. Insisto que, ao se decidir elaborar um Plano Diretor Municipal, os gestores ganham uma chance ímpar para, não somente definir o futuro da sua cidade, mas principalmente qualificar tecnicamente seu corpo de profissionais.
Neste processo, o diagnóstico técnico é o fator preponderante para o conhecimento da dinâmica de todo o território municipal. A participação ativa dos colaboradores das prefeituras dará aos mesmos a capacitação necessária para se implantar, com segurança técnica, as diretrizes estabelecidas no seu Plano Diretor. É, portanto, uma grande oportunidade para que as cidades brasileiras trabalhem na busca das decisões pautadas pela ciência.
Tenho visto boa parte dos municípios brasileiros preocupados em exercer a política, sobrepondo-a à engenharia, à química, à física, à biologia, aos aspectos do ambiente, da cultura, do comportamento, da saúde, de outros.
Assim, enfrentamos crises hídricas por ignorarem fenômenos da natureza, como o El Niño e La Niña e os impactos do desmatamento, que poderiam servir de referência em planos de expansão do abastecimento de água. Vemos desabamentos e grandes deslizamentos de terra causando mortes e prejuízos, por subestimarem a declividade do terreno, a geologia local, a pluviosidade, a drenagem e o mapeamento de áreas de risco nas decisões de realocação de famílias, somando-a a planos habitacionais.
Vemos empresas implantarem empreendimentos com grandes impactos ambientais e sociais sem que a administração pública consiga estabelecer tecnicamente limites e compensações na mesa de negociação. Poderia aqui elaborar uma dissertação de mestrado elencando vários outros exemplos. Exemplos estes que provam que o Brasil precisa avançar muito no preparo, na qualificação de seus gestores públicos, para que os mesmos tenham a visão da ciência como referência nas decisões políticas, como a escolha profissional em seu quadro de secretários e assessores e que também trabalhe sempre na qualificação técnica de seus funcionários.
Para mim, o exercício da política com competência não somente se baseia em boas articulações, mas também na garantia de que a gestão está pautada em premissas profissionais, técnicas e científicas para as decisões ao nível administrativo.