Quem deseja ter uma vida mais saudável com mais economia ou, pelo menos, com os mesmos valores atuais, pode optar pela chamada volta ao básico.
Retorno aos anos 1950, na minha cidadezinha do interior, onde relembro que, alimentação, quanto mais simples mais saudável. Arroz, feijão, carne de boi, de porco, frango ou peixe são excelentes alimentos. Uma salada simples de alface, tomate, pepino, completavam a mesa. E para variar, ovos estalados ou em farofa é uma delícia. Havia no quintal de minha casa, há mais de meio século, o quiabo, as diversas abóboras, a mandioca, o cará, a couve e o almeirão. Os alimentos básicos eram esses e sempre variavam as combinações e as maneiras de prepará-los. Ajudavam a melhorar o sabor os temperos alho, sal, cebola, cebolinha e salsa.
O feijão pode ser comido logo após cozido com um pouco de sal, pode ser com caldo, que chamávamos de feijão bebido, às vezes misturado com farinha de mandioca, cebola mais ovos mexidos, quando formava o delicioso e tradicionalíssimo feijão tropeiro, que hoje é marca registrada dos estádios de futebol em Minas Gerais. E, muito saboroso e sempre nutritivo era o tutu de feijão, acompanhado de um ovo cozido e um pedaço de linguiça de porco. A couve, que sempre foi abundante em qualquer horta familiar, até hoje é servida frita, temperada com sal e alho.
Aos sábados, especialmente na época de frio, ainda fazíamos a feijoada, para comer com moderação, toda cheia de “bagulhos” e “entulhos” saborosos: rabinhos, unhas, orelhas, focinhos e carne de charque ou de sol. Acompanham o molho de pimenta e a farinha torrada. Uma pinguinha ou caipirinha eram fundamentais como “guia”.
Aos domingos, era comum a macarronada suculenta acompanhando o frango, sempre criado no quintal, ao molho simples, o próprio caldo, no máximo com cebola. Muitas vezes se faziam acompanhar pelo arroz de forno, com molho de tomate, ervilhas quando possível, e um queijinho ralado na cobertura. Apenas na sexta-feira santa e no natal, havia o bacalhau importado, sempre caro. A sobremesa era uma banana, um pedaço de mamão ou abacaxi e outras frutas. Para beber, água do pote e uma vez ou outra um suco de laranja ou limonada. Depois, o café coado na hora.
O certo é que economizávamos bastante com o trivial. Até mesmo no café da manhã, era tudo simples: um café puro, broa de fubá ou bolo de farinha de trigo, biscoitos fritos e algumas vezes biscoitos de queijo assados no forno. Hoje, os melhores restaurantes característicos da chamada cozinha mineira, ou fogões de lenha, servem, a preços bem elevados, esses pratos como típicos ou especiais. Em casa, é possível fazer com economia, higiene e sabor.
A saúde era cuidada pelo farmacêutico local ou por um desembaraçado charlatão que cuidava dos casos mais comuns até de engessar braços e pernas quebradas. Olho furado e casos apendicite ou outras inflamações, o carro de praça conduzia o enfermo para a cidade vizinha com mais recursos.
Em casa, para atender aos familiares e vizinhos, havia sempre o armarinho de farmácia básica: para machucados, o mercúrio cromo ou mesmo álcool. além de algodão, esparadrapo e gaze. Um veramon ou cibazol, depois a cibalena e coristina, para dores em geral, com ênfase na dor de cabeça; o xarope expectorante, um vidro cheio de bicarbonato de sódio para azia, um vidro de “vick vaporub”, cânfora, para descongestionar a respiração, um remédio para dor de barriga, que quando era mais grave levava à possibilidade do cristel, de largo uso veterinário, para uma desagradável mas às vezes necessária limpeza intestinal.
E predominavam os chás para tudo quanto há: de marcela e losna para desarranjos intestinais, chás de funcho, poejo, levante e hortelã e capim ou erva cidreira para gripes e congestões nasais. Pouco usado, o chá de folha e de flor da laranjeira era uma delícia, especialmente adoçado com mel de abelha jataí.
A folha de goiaba para escovar os dentes teve seu tempo. Hoje é escova e dentifrício.