Depois de muito esforço para sair de casa, sedentarismo que pratico por comodismo ou por força maior, criei coragem e fui visitar um velho amigo, pai de duas filhas casadas e um filho que já está com cerca de 30 anos e continua solteiro. Como ele mora em uma casa térrea, quando eu o visito ficamos ali no alpendre batendo nosso papo saudosista.
O tempo em que estamos juntos falamos das mudanças que, nos dias atuais, estão ficando cada dia mais constantes. Começamos pelos eventos que vêm causando mudanças como o esfacelamento da União Soviética, a queda do Muro de Berlim, o advento da Internet, a abertura da China, a eleição de Barack Obama, um negro à frente da maior potência do mundo, o prêmio Nobel da Paz concedido a esse presidente, o grande número de mulheres à frente dos governos de vários paises, um enforcamento em pleno século XXI, o de Sadam Hussein, a grande crise mundial e suas conseqüências. Outro dia Barack Obama nomeou como conselheira do governo uma transexual.
Comentávamos também sobre a mudança de hábitos e costumes que tanto assusta as pessoas mais idosas como nós dois. Hoje os casais não se sentem mais obrigados a continuar convivendo sem amor, como nos tempos de outrora. Por dê cá essa palha separam-se; os filhos e filhas, os jovens em geral, sentem-me muito independentes e abandonam todos os costumes tradicionais; surgem os rebeldes sem causas ou sem calças? Os governantes e políticos em geral já acham natural serem desonestos. Por outro lado, as pessoas pensam duas vezes antes de jogar um material no lixo e querem saber de pessoas mais esclarecidas o que fazer com este ou aquele material. Muitas pessoas não mais usam sabonetes perfumados em águas correntes, uma vez que o perfume contamina e degrada as fontes, mananciais e as correntezas. O aquecimento global tem levado muita gente a mudar os hábitos e agir com mais comedimento. Paradoxalmente, o consumismo é uma avalancha. O lixo aumenta cerca de 10 por cento ao ano. Em suma, tudo está mudando rapidamente e aqueles que não se adaptarem estarão sendo varridos do mundo competitivo nas próximas décadas.
Enquanto falávamos desses acontecimentos e das mudanças, chegou ao portão um guapo rapaz chamando pelo filho do meu amigo. Com grito suave do nome do rapaz ele logo apareceu todo aprontadinho e foi despedindo-se do pai com um beijo no rosto e o aviso de que não voltaria para dormir em casa.
Com uma pontinha de curiosidade, eu quis saber para onde o filho estaria indo, pois me pareceu que faria uma pequena viagem, já que só voltaria no dia seguinte como deixou a entender.
Meu anfitrião e amigo explicou com bastante naturalidade para meu gosto:
– Não, esse rapaz aí é o namorado do meu filho.
São os ventos da mudança soprando com a força toda.
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