Ur, terra natal de Abraão, para quem gosta de palavras cruzadas era, até pouco tempo, considerada a mais antiga cidade conhecida. Hoje considera-se Jericó. A diferença é de aproximadamente 4.000 anos.
No caso do lixo urbano, segundo encontrei na Internet, havia em Jericó, há dez mil anos, um modelo de coleta bem complexo. As pessoas jogavam fora tudo o que não servia em casa e o Rei mandava recolher e amontoar fora dos muros da Cidade.
Em Ur, 4.000 anos mais tarde, um outro rei, Hamurabi, teve uma idéia genial. Conseguiu que cada artesão cuidasse da sucata que gerasse. Assim, o sapateiro concordou em receber de volta os velhos sapatos quando “dessem no prego”. Era comum alguém chegar naquelas oficinas e ver um monte de couros velhos, que as crianças pediam para fazer atiradeiras ou estilingues. Com os retalhos também faziam-se cintos e cordas.
O fabricante de cestos de bambu recolhia a sucata que havia gerado e a repassava aos fabricantes de sabão que os aproveitavam para coar a matéria prima composta de cinza de fogão a lenha e sebo, que antes era jogado fora pelo açougueiro.
O alfaiate e as costureiras também colaboraram, aceitando receber de volta as peças de roupas que ficavam velhas. Delas tiravam os botões, que reaproveitavam, e os tecidos eram recortados em pedaços retangulares que eram recosturados, tornando-se charmosas colchas multicoloridas. Em cima de uma cama velha que ficava no antigo quarto de costuras de cada casa, havia sempre um pedaço de pano que era útil para remendar a roupa que rasgava.
Poderia ficar páginas e páginas para relatar todos os acordos entre os artesãos e Hamurabi, mas posso assegurar que naquela moderna cidade o tesoureiro real nem tomava conhecimento do assunto.
O tempo passou e, já na civilizada Roma, vimos um retrocesso. O Imperador, para agradar aos patrícios, mandava coletar todo o lixo na porta de suas casas e transportá-lo até os terrenos baldios da periferia, semelhantes aos lixões de Jericó.
De lá para cá pouco evoluímos, permanecemos como nos primeiros anos de Jericó. Todos os dias, ou em dias alternados, os caminhões passam na porta das casas para recolher a imundície que os moradores depositam nas calçadas.
Está na hora de avançarmos. Podemos buscar em Ur a Logística Reversa se obtivermos a colaboração dos fabricantes e comerciantes, que inundam nossas cidades freneticamente com embalagens e bugingangas.
Quem sabe se procurarmos os donos dos supermercados apresentando esta idéia conseguimos que eles colaborem, aceitando de volta parte da enorme quantidade de materiais que acabam deixados nas ruas ou indo para os infectos aterros para uma demorada decomposição.
Amanhã mesmo vou procurar meu amigo Zé Nogueira, um dos donos das redes de supermercados EPA, Mart Plus e Via Brasil para lhe propor que seja pioneiro e aproveite o marketing ecológico a seu favor.
Se ele e seus colegas colaborarem avançaremos 4.000 anos, do modelo atual copiado de Jericó, para a Logística Reversa implantada por Hamurabi.
Comentários
Torcendo pelo seu carro !!!
Sucesso !!
Grande Marcelo. A você tenho muito que agradecer pelo apoio constante. E lembrar que nossa mizade começou num curso ali na FATEC da CDL e perdura há tantos anos. É sempre um prazer o contato com você. Muito obrigado.
Verly
Admiro tudo que você escreve!
Quando recebo suas mensagens, lembro-me dos nosso primeiro contato há mais de 6 anos em que você ilustrava e, ainda pouco ilustrou mais um, dos meus textos. Sou muito agradecido à sua atenção quase diária. Vindo a BH minha casa está as suas ordens.
Verly
Amei como sempre … leio, absorvo, me delicio com suas cronicas.
Mavi, agora cearense querida, gostaria de pedir ao Editor deste Portal que se dispusesse a publicar seus poemas. Aqueles sim, dão prazer de ler e reler. Um dia ainda nos conheceremos pessoalmente. Agreadeço seu carinho. Verly
Verly tem todo o meu apoio!
Quem tem um apoio de jovem tão inteligente, precisa de muito pouco a mais na vida. Muito obrigado. Verly
Verly, sempre arrasando….adoro suas crônicas.
Você, lê e prova que leu tudo que eu escrevo. Sou extremamente grato pela sua atenção. Verly