Fogão a Lenha

Publicado por Sebastião Verly 19 de abril de 2016

fogão a lenha

O fogão a lenha, hoje restrito a ambientes especiais, já foi presença fundamental em todas as casas. Só a partir da década de 1950 eles começaram a ser substituídos pelos fogões a gás.

O fogão tem uma história bem longa e muitos casos para contar sobre ele.

Feito inicialmente de barro, de alvenaria e cimentado, a fornalha suportava uma chapa de três ou quatro furos de tamanhos diferentes compatíveis com os tamanhos nas panelas. Com a água encanada veio a serpentina de canos galvanizados instalada nas laterais fogão. Depois chegou a chapa com a serpentina nela embutida que teve vida curtíssima.

A lenha tinha de ser bem seca, e, quando chovia, era mantida na própria cozinha ou num barraco ao lado. Os paus de lenha variavam em sua grossura e alguns tinham de ser rachados para facilitar a colocação na boca da fornalha. Alguns paus mais finos facilitavam acender o fogão e a queima enquanto os mais grossos produziam brasas e carvão.

Bem cedo, começava a faina para acender o fogão. Geralmente restavam brasas do dia anterior e o acendimento consistia em soprar as brasas sob palha, papel ou materiais de mais fácil queima. Em muitas casas os tições, nome dado ao pau de lenha aceso, apagavam e era comum pedir brasas no vizinho. Veja a história sufi Muskil Gushá. Daí criou-se a expressão pergunta “veio buscar fogo?” quando queria dizer que a visita demorara pouco. A criança, geralmente um menino ou menina, tomava uma colher de ferro e ia buscar brasas da fornalha de vizinhos. A alternativa mais indicada era o isqueiro ou binga que tirava o fogo de pedras, primeiro naturais, depois industrializadas que tiravam faíscas atritadas por discos frisados. Facilitava bastante acender o fogão, guardar palhas e sabugos de milho, de gravetos, cavacos tirados dos próprios paus de lenha e as cascas secas de laranja. O trabalho de soprar chegava a ser cansativo.

O fogo permanecia aceso enquanto pudesse e o canto do fogão permanecia quentinho o dia todo. Ali ficava a cafeteira ou bule com o restante do café que era tomado em pequenas xicrinhas esmaltadas ou de porcelana, especialmente pelas pessoas que fumavam um cigarrinho. Era o cafezinho chamado de boca de pito. Mas essa é outra história. Havia quem conservasse o bule dentro de uma panela de água quente.

Aquela cinza misturada com brasas permanecia ali na boca do fogão, chamada de borralho, tinha muitas utilidades, além da lendária história de servir para os gatos se aquecerem na solidão da noite. Naquele volume de cinzas era fácil assar cebolas, batatas doces, mandiocas e outras raízes saborosas. Para assar no fogão é bom lembrar que nas brasas assava-se o queijo no espeto e a carne tanto na chapa quando perto das brasas, sem labaredas. Também é saboroso o milho verde, quase em cristal, assado nas brasas. Resta lembrar que bem acima do fogão, presas aos caibros do telhado, amarravam-se arames onde dependuravam-se linguiças e peles de porcos que defumavam ou curavam-se com o calor e fumaça.

Era preciso ter uma eficiente chaminé, com tampa em forma de gaveta para regular a passagem da fumaça para cima do telhado. Mesmo assim, juntava-se bastante picumã uma espécie de fiapos de algodão pretos que ficavam presos ao teto. Depois veio o forno instalado na parte de baixo do fogão que agregava uma saída para a cinza antes retirada na parte de cima.

É muito bom lembrar o papel social do fogão.

A cozinha, era o lugar de reunir pessoas da casa e gente da família. Tanto que esse ambiente era o mais espaçoso da casa. Em noites de frio juntava todo mundo ali perto do fogão de lenha. Calor do fogo e calor humano. Há até mesmo uma expressão latina focolare, que significa o aconchego do lar.

O fogão contava com a trempe mais alta onde estava a chapa e a plataforma que dava apoio aos paus de lenha. Ali, arredavam-se a madeira e assentava-se para aquecer bem perto. Pessoas que mascavam fumo usavam o borracho para passar o fumo que levavam aos dentes Os que fumavam acendiam o cigarro nas brasas, geralmente segurando um pequeno tição que levava bem junto ao cigarro na boca.

Hoje em dia, tem gente que desloca-se a lugares distantes para comer comida feita em fogão a lenha. Dizem que é muito mais saborosa. Nas grandes cidades já existem lugares que oferecem essa modalidade de preparar a comida mesmo que se pague um pouco mais pela saudosa “novidade”.

Comentários
  • cláudio Cesar de Lima 3118 dias atrás

    Não se pode comparar os antigos fogões de lenha com os apresentados hoje em restaurantes com a informação de “comida de fogão de lenha”, já que aquele fogão ali instalado serve apenas para manter quente o almoço que se fez no fogão a gás.
    Sentar-se junto com todos os irmãos ao pé do fogão para ouvir histórias que logo nos adormeciam, não tem preço.

  • Verly 3134 dias atrás

    Que bela ilustração. Parabéns. Muito obrigado.

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