Uma das pessoas marcantes da minha cidade foi a Dona Maricota do Mestre ou Maricota do Seo Arlindo.
Ela e seu marido, Sr. Arlindo Ribeiro de Campos, dentista prático, moraram uns tempos fora da cidade, onde tiveram seu único filho, o José Cipriano de Campos Neto, que ficou conhecido como Zezinho da Maricota.
Ao retornarem a Pompeu, depois de uma rápida passagem pela área agrícola ali pelos lados das fazendas da Saudade ou Morro do Chapéu, mudaram-se para a cidade.
No campo de Pompéu, tocavam uma pequena lavoura, inclusive com produção de raízes e legumes, em pequenas quantidades. Na cidade o Seo Arlindo era um dentista prático.
Digo aqui de passagem que tinham como empregado, o Escorpião, de quem poucas pessoas sabiam o nome. Escorpião era um moreno baixinho, de grande popularidade na cidade. Além de ajudar nas lidas, trazia o Zezinho para o grupo escolar, na garupa de um cavalo de boa marcha.
Para encerrar a participação do Escorpião na minha história, os galhofeiros nas portas dos comércios, especialmente dos bares, com gestos, incentivavam o garoto Zezinho para que colocasse pequenos objetos no ouvido do condutor para fazer cócegas e provocar susto dele e risos dos marotos.
Volto à nossa homenageada.
Dona Maricota mantinha hábitos de nobreza. Estatura delicada, corpo delgado expressões e gestos claros e comedidos. Era realmente uma mulher admirável. Proporcionava ao filho tudo que houvesse do bom e do melhor. No relacionamento só carinhos e mimos.
Dona Maricota e Seo Arlindo formavam um par perfeito. Me fazem hoje lembrar a música de Violeta Parra, “Míren como corre el água”, onde ela descreve o amor do homem como a força do rio e o amor da mulher como a areia da margem. Enquanto o rio carrega a areia, esta o amolda e direciona.
Para facilitar a vida do seu menino ela convidava todos os dias o meu irmão para estudar com ele já que eram colegas de sala. Com um lampião Aladim, já que a cidade não contava com a energia elétrica, oferecia uma iluminação excelente e em um intervalo lá pelas 9 horas da noite, oferecia um lanche maravilhoso.
Eu mesmo, quando ia para casa, passava pela residência da Dona Maricota para levar meu irmão comigo e aproveitava para banquetear o delicioso lanche. No mais eram sermões altamente positivos. Suas palavras eram de puro incentivo.
Após mudar da minha cidade, visitei Dona Maricota umas poucas vezes. Nessas visitas, eu ia acompanhado pela minha irmã, Dilce, que era afilhada da afável dona Maricota. Soube que o filho tornou-se odontólogo e casou-se com uma das moças mais lindas da cidade. Infelizmente veio a falecer muito cedo.
Eu não me lembro de ter visto a Dona Maricota ou seu marido em missas e comemorações religiosas. Nem envolvidos em situações políticas. No entanto, posso afirmar que sempre ouvia belos conselhos, desejos e votos de felicidades. E ouvia aquela força e entusiasmo, aquele ânimo sem igual. Havia sempre muita alegria, sorrisos a encobrir toda a nossa conversa.
Daquele corpo delgado soltava-se energia inacreditável: entusiasmo, paz, coragem e muito amor. O que ficou foi a herança de ter todas as boas qualidades e levar uma vida modelo. Mesmo que neste caso o que vale mesmo é o que ficou para quem, como eu, teve a felicidade de conhecê-la.
Comentários
Boa tarde. Dona Maricota, saudosa tia do meu pai Moysés Geraldo Ribeiro Campos, que o alfabetizou. Tio Arlindo, Zezinho e tia Nice. Já passei até férias em sua casa.
Muito obrigado bela belas lembranças !!
Abraços