Voltando de Bologna, na Itália, onde fora visitar meu filho que lá estava estudando, cai nas graças de meu bem apessoado companheiro de poltrona.
Comecei a falar, como me apraz, mas ele também adorava ter esse prazer.
A Itália, especificamente em Nápoles, passava naqueles dias por um tremendo sufoco com a sujeira e lixo por toda a cidade.
O meu novo amigo começou a me explicar o que se passava. Mas antes quis me contar um pouco sobre a famosa Camorra. Falava enfático:
Camorra é o único fenômeno mafioso proveniente de um meio urbano. Seu lugar de nascimento é Nápoles, Itália; a data, em torno do início do século XIX. As atividades da Camorra são incontáveis, da agiotagem à extorsão, do contrabando de cigarros ao tráfico de drogas, da importação irregular de carne à fraude à União Européia. Sem esquecer os dois setores “tradicionais” de monopólio: o do jogo clandestino e o de produção de cimento. A esses, disse o meu companheiro de viagem, agora juntamos também o lixo. Controlamos o Lixo em todo o mundo. De Nova Delhi a Estocolmo, de Londres a Tegucigalpa, não há no mundo um só lugar onde não estejamos prontos para assumir o controle do lixo.
Falou demoradamente como tudo é feito. Primeiro “compram” os parlamentares, depois “compram” os responsáveis pela fiscalização e se encontram algum resistente eles não mandam recado: matam. Pura e simplesmente eliminam quem servir de empecilho para seu avanço devastador.
– O senhor, me dizia ele, há de convir que não existe negócio melhor no mundo, quando consideramos que cada pessoa gera em média 1 quilo de lixo por dia. Isso mesmo: 6 bilhões e quinhentos milhões de quilos de lixo por dia. E o governo tem que dar fim a essa porcaria toda. E é aí que a Camorra entra em “parceria” com as empresas nacionais. É mais dinheiro do que rende a droga ou o cimento que temos que dividir com alguns “nacionalistas” como o senhor Antônio (esse nome ele fala bem) Ermirio de vocês.
Em outra ocasião tive a oportunidade de assistir em Belo Horizonte a uma palestra promovida pelo Ministério Público Estadual de um promotor italiano engajado na “Operação Mãos Limpas” de combate à Máfia, ou às máfias, principal produto de exportação daquele país nos últimos tempos. O palestrante discorreu sobre o formidável aparato institucional desenvolvido com a finalidade de destrinchar os crimes de natureza financeira, próprios da lida mafiosa. Falou sobre a aparatosa “Guardia di Finanza”, corporação fardada comandada por um general oriundo de sua própria estrutura.
Mas a partir do meio da exposição assumiu um tom pessimista dizendo que seu país vivia um período prolongado de estagnação econômica. Contrastando com esse quadro, citou o fato de que novas redes de supermercados e magazines vinha surgindo no sul da Itália, gerando um dinamismo econômico considerável, e principalmente novos empregos. Para fechar a exposição explicou que aquele dinamismo era proveniente da atuação da Máfia Napolitana e da atividade de contrabando de cigarros das repúblicas oriundas da antiga Iugoslávia para a União Européia. Em tom quase depressivo dirigiu-se à platéia de promotores, fiscais, policiais e jornalistas pedindo ajuda: o que vocês fariam numa situação dessas?
Eu ria para não chorar…
Aonde viemos parar meu Deus?!… (E eu que pensava que era ateu!)
Comentários
LIXO
nao é lixo, o texto é muito legal