Capivaras na Pampulha em Belo Horizonte

Publicado por Sebastião Verly 20 de março de 2014

A Lagoa da Pampulha é o cartão postal primordial das visitas da Capital Mineira. São 18 quilômetros de orla de um belo lago cercado de gramas, arvores e arbustos e onde se localiza o grande patrimônio arquitetônico da obra de Oscar Niemeyer, com destaque para a moderníssima Igreja de São Francisco. Nela se juntam os painéis de Portinari e os Jardins de Burle Max. Esquece-se a poluição, por um momento.
De alguns anos para cá, surgiram novos habitantes do ambiente tão elogiado pela grande beleza e pela tranquilidade que oferece. Capivaras que vinham de outros banhados passaram a reproduzir com tamanha intensidade que acabaram como animais quase domésticos.
São os amantes da preservação das espécies, são pais que viram ali a oportunidade de levar os filhos a conhecerem os animais do meio rural, toda gente pelo menos uma vez, queria visitar o espaço e ver os mansos animais.
Há alguns meses, o prefeito de Belo Horizonte alardeou que precisava acabar com aqueles bichos. Muito burburinho, críticas e uma vez mais as opiniões se dividem. A pergunta que não quer calar: o que está por detrás dessas posturas? Se há algo por trás?
Os preservacionistas se ouriçaram e o assunto ficou em banho-maria.
Nas últimas semanas, a mídia fez estardalhaço com a morte de um jovem de 21 anos, supostamente pela febre maculosa, para sacudir a bandeira do medo. O que há por traz desse exagero? O alarme ultrapassou as fronteiras da Capital e até mesmo do estado e já se transformou em fobia.
Segundo o filosofo Luc Ferry, “vivemos a sociedade do medo. Aos três grandes medos – timidez, morte e fobias – adiciona-se outro, tipicamente ocidental: o medo que se desenvolveu com a ecologia política. Medo do eleito estufa, do buraco na camada de ozônio, do aquecimento global, de micróbios, da poluição, do fim dos recursos naturais. A cada ano, um novo medo se adiciona a todos os outros: medo da carne vermelha, da gripe aviária, da aids, do sexo, do tabaco, da velocidade dos carros. Os grandes ecologistas e os filmes que tratam do tema têm como objetivo principal trazer o medo. No livro “O princípio da responsabilidade”, do filósofo alemão Hans Jonas, há um capítulo chamado Heurística do Medo. Nele, o medo é descrito como uma paixão positiva e útil. Em toda a história da filosofia ocidental, o medo é o inimigo, é algo infantil, que faz mal. A ecologia inverte essa tradição filosófica ao sustentar que o medo é o começo de uma nova sabedoria e que, graças ao medo, os seres humanos vão tomar consciência dos perigos que existem no planeta. O medo não é mais visto como algo infantilizado, mas como o primeiro passo no caminho da sabedoria. É o que os ecologistas chamam de princípio da precaução. Isso não quer dizer que os ecologistas estejam errados. Há um componente de verdade no que dizem, mas há também muita paranóia.
As avenidas em volta da Lagoa da Pampulha, logradouros badalados de eventos sociais e esportivos, de uma hora para outra, passaram a representar um perigo.
Na visão do capataz da fazenda ou do fazendeiro leigo, soluciona-se o surto de carrapatos com um spray de inseticida, “indicado para o tratamento de bovinos, equinos, ovinos, caprinos, suínos e aves contra parasitas externos e internos.” No meio urbano, atinge-se o status de uma catástrofe iminente.
A mídia que precisa de sensacionalismo para obter audiência, enche seu espaço-tempo com mais essa ameaça. E o povo alienado replica a notícia em busca de uma solução estratosférica. É hora do bom senso. A questão está posta e toda questão posta pela natureza encontra logicamente a solução.
Além do bom senso, é preciso moderação do debate e busca inteligente de uma solução. Como diziam os mais velhos: “Tomara que todo problema de Belo Horizonte seja esse.”

Comentários
  • José Porto 3902 dias atrás

    Gostei da matéria, caro Verly. Muitas vezes as pessoas realmente complicam coisas simples. A meu ver, as capivaras já fazem parte do contexto visual da lagoa. Como a região é muito grande, bastaria confiná-las em uma área suficiente, definida com tela e proceder o seu controle de proliferação, ou seja, destinando os animais excedentes às áreas rurais, que abundam no nosso país.
    Carrapatos? Quando eu era criança pequena lá no nosso Pompéu, era a coceira que eu mais gostava. Bicho de pé também. “Às favas com estes escrúpulos…”.

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