Benzedores, curandeiros, responsadores e advinhos – parte I

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Benzedeiras, benzedores, curandeiros e curandeiras eram e ainda são encontrados em grande número em pequenas comunidades e na periferia das grandes cidades, e nesses espaços são muito valorizados e respeitados, exercendo papel de conselheiros em questões que vão desde a curas de doenças, crises mentais, emocionais perda de objetos pessoais, dificuldades do matrimônio, e, claro, dificuldades financeiras.
Na bíblia, encontramos sobre os falsos profetas: “… e diga-lhes que o SENHOR Deus diz o seguinte: “Ai de vocês! Pois, a fim de terem poder sobre a vida dos outros, vocês fazem benzeduras em pulseiras para todos e preparam véus enfeitiçados para pessoas de todas as idades.””(Ezequiel, 13,18)
Em muitas culturas, especialmente em regiões rurais e tradicionais do Brasil, as curandeiras e benzedeiras desempenham um papel importante na cura de doenças através de práticas e rituais populares. Algumas das doenças mais comumente tratadas por esses métodos incluem quebranto ou quebrante, mau-olhado, cobreiro, ventre virado, ventre caído, erisipela, impinge, catapora, coqueluche, problemas digestivos ou intestinais, verminoses, problemas emocionais e problemas financeiros.
As benzedeiras e curandeiros em Pompéu, Região Central de Minas Gerais, eram conhecidos pela simplicidade e eficácia de suas práticas. Utilizando ramos e folhas de plantas medicinais combinadas com rezas e uma fé inquebrantável, essas pessoas conseguem proporcionar alívio, confiança e esperança para aqueles que procuram seus serviços. A simplicidade de seus métodos, aliada à sua profunda conexão com a natureza e a espiritualidade, confere ainda mais credibilidade às suas práticas que continuam a ser valorizadas e respeitadas por aqueles que acreditam em seus poderes de cura. Essas práticas, embora não comprovadas cientificamente, são muito respeitadas em suas comunidades e fazem parte de seu rico patrimônio cultural.
As benzedeiras e curandeiros desempenharam um papel fundamental na comunidade de Pompéu. Com uma dedicação impressionante, essas pessoas ofereciam esperanças de melhora para a saúde física, emocional, sentimental, matrimonial e financeira, de maneira totalmente gratuita.
Os benzedores são conhecidos por utilizar rezas, ervas medicinais e outros elementos naturais para curar diversos males. Eles são frequentemente vistos como figuras de grande respeito e confiança em suas comunidades. A tradição dos benzedores é passada de geração em geração, muitas vezes dentro da mesma família. Já ouvi histórias, contadas ironicamente pelos benzedores, de que pessoas curiosas das grandes cidades chegam procurando seus serviços e pedem para gravar ou anotar suas rezas acreditando que poderão conseguir o mesmo efeito.
As benzedeiras e curandeiros utilizam uma variedade de plantas medicinais em suas práticas. Aqui estão algumas das mais comuns e seus usos tradicionais: dentre as ervas usadas em rituais de curas destacam-se a arruda, o alecrim, guiné, espada de São Jorge, o jaborandi, sálvia, manjericão, louro, erva-cidreira, camomila e inclui também velas, pano branco, água benta e rezas religiosas.
O ritual exige um ambiente tranquilo, materiais limpos e, se possível, naturais, deve ser sem interrupções, certificando-se de que a pessoa está confortável e relaxada. Deve obedecer às crenças pessoais e tradições locais e tem um detalhe importante, tem que ser feito antes do sol entrar.
As denominações de benzedeiras, benzedores e curandeiros podem variar bastante dependendo da região e da cultura local. Aqui estão algumas das mais conhecidas:
Benzedeiras/Benzedores: são pessoas que utilizam rezas, plantas medicinais e rituais para curar doenças e afastar o mal. São muito comuns em várias regiões do Brasil.
Rezadeiras/Rezadores e até rezadeiros: similar às benzedeiras, mas com um foco maior nas rezas e orações para a cura e proteção.
Curandeiras/Curandeiros: utilizam uma combinação de conhecimentos tradicionais, plantas medicinais e práticas espirituais para tratar doenças e promover o bem-estar.
Costureiras de Machucaduras: em algumas regiões, especialmente no interior, são conhecidas por tratar ferimentos e machucados com técnicas tradicionais e plantas medicinais.
Suas práticas muitas vezes foram transmitidas de geração em geração, representando um legado ancestral ou, em alguns casos, um dom desenvolvido por eles mesmos. A maioria relatou a transmissão do ofício a partir de um familiar, destacando a prática da benzeção como algo que pode ser ensinado, aprendido e transmitido por meio da tradição oral. Outrossim, o ofício também é compreendido como um dom inato que atravessa o desenvolvimento, o que requer dedicação, paciência e abnegação. A dificuldade de transmitir o ofício aos mais jovens pode estar relacionada a uma maior urbanização, ao maior acesso a equipamentos formais de saúde, bem como revela a submissão destes rituais a uma lógica biomédica, dentro de um sistema de saúde que correntemente negligencia os sistemas populares de cuidado.
Independentemente de nossa fé ou da validade científica e racional dessas práticas, é inegável que estas entidades merecem nossa admiração e respeito. Elas oferecem mais do que suporte a quem procura suas bênçãos, mas também mantêm vivas tradições culturais e espirituais que são parte essencial da identidade da comunidade. A contribuição deles para o bem-estar coletivo é incalculável, servindo como um farol de esperança e resiliência para muitos.
Nesta série desejo relatar minhas lembranças e experiências pessoais, religiosas, sociais e culturais sobre benzedeiras e curandeiros e as transformações desses entes culturais ao longo de suas trajetórias de vida, bem como sua relação com a promoção da saúde em suas comunidades.
O caso mais estranho que conheci recentemente foi narrado pela Doutora Rosemary que me contou que uma senhora sua cliente disse-lhe que foi curada pelo ritual do bucho milagroso. Como fui pesquisar e soube pelo meu grande amigo João Mendes Lopes que a senhora sua mãe também contava que foi curada pelo “bucho milagroso”.
O “bucho milagroso” ou “buchão de boi” é uma prática tradicional e, em alguns lugares, bastante antiga. Consiste em utilizar o estômago de um boi-garrote para tratar diferentes doenças. Muitas vezes, esses métodos são passados de geração em geração, e algumas pessoas acreditam fortemente na eficácia desse tipo de tratamento.
A prática consiste em colocar a criança doente dentro do estômago de um boi recém-abatido, com o objetivo de absorver as “propriedades curativas” do animal. Acredita-se que o calor e as propriedades do estômago do boi possam ajudar a curar a doença.
Também com referência aos animais era muito comum em Pompéu levar crianças afetadas pela coqueluche para deitarem-se no lugar em que levantava na hora uma égua. Vi pelo menos uns 3 casos deste por volta de 1950.
Continua na parte II
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