Há dias, busco inspiração para escrever sobre a chuva, especialmente nesses tempos em que ela ganhou a divina graça em nosso meio.
Diferente de outras épocas, mesmo quem foi pego de surpresa ao sair de casa sem guarda chuvas e ser obrigado a andar na chuva, hoje louva a chuva.
Ainda há pouco, eu estava assentado num banco de ponto de ônibus e a chuva caia com vontade, quando ouvi uma senhora chegando para a outra que estava assentada ao meu lado e, visto que eram conhecidas, disse-lhe: “chuva abençoada”. Toda molhada, pois estava, como eu, sem uma sobrinha, ainda assim sorria alegremente. Naquele banco, assentaram-se e levantaram-se várias pessoas, inclusive um cidadão com uma perna só e, até ele, todos sorriam de satisfação.
Durante alguns segundos eu imaginei como a situação mudou. Até há uns dez anos, quando chovia muito ou se chovesse em hora inesperada, a chuva era maldita e excomungada. Especialmente em algumas regiões aqui da cidade de Belo Horizonte, onde as enchentes são devastadoras, os moradores oravam e pediam a Deus que a chuva cessasse.
Enchentes e inundações continuam a acontecer, mais por descaso do poder público.
Mesmo assim, nos últimos anos três anos, a população mudou sua maneira de encarar o fenômeno.
As pessoas foram mobilizadas pela realidade que nos alerta o tempo todo de que os rios estão secando e os reservatórios estão chegando a zero.
O mau exemplo vem do estado mais rico, São Paulo. A falta d’água atingiu toda a periferia. Era triste ver casas tão simples com latas e bacias recolhendo um pouquinho d’água uma vez por semana para todas as lidas de casa. Não se vê hora nenhuma a casa da minoria rica faltando água. Só falta água para pobre.
E são os pobres que têm que andar na chuva para ir para o trabalho ou para fazer suas compras e pagamentos em horários de chuva.
Conscientizo-me mais de que gente são essas pessoas comuns que caminham pelas ruas, tomam condução coletiva, vão ao trabalho, entram e saem em lojas das ruas. São essas pessoas as que contam na vida das cidades. São elas que movem os países e transformam o mundo. E são elas que sabem o que realmente é bom para a humanidade. Agora elas sabem que a chuva chega em boa hora.
Bendita chuva que molha o corpo do trabalhador, irriga a sua mente e lava a alma dessa gente pobre e sofrida. Gente simples, mas que sabe dar o devido valor ao que realmente tem valor.
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Fico feliz em ver meus textos publicados. Obrigado.