Ariano Suassuna, viver e sonhar

Publicado por Sebastião Verly 24 de julho de 2014

Ariano Suassuna resolveu despedir-se de nós. Praticamente todo brasileiro alfabetizado já o leu, o ouviu ou viu filmes de sua lavra. Depois de 87 anos completados, deixa-nos. Ficam seus ensinamentos nas aulas que ministrava, em forma de brincadeira, sua aula espetáculo que é uma fonte de conhecimentos muito além do imaginável.

No ano de 1927, Ariano Suassuna nasceu, no Palácio do Governo da Paraíba, onde seu pai, João Suassuna, governou de 1924 a 1928. Seu pai foi assassinado por motivos políticos no Rio de Janeiro após a Revolução de 30.

Desde os 17 anos foi professor e, ainda, com 87 anos, dava essa belíssima aula para plateias semeando cultura brasileira pelo Brasil de todos nós.

Esse paraibano de vida pernambucana “pintou” e “bordou” pelo Brasil afora. Defende pontos de vistas incontestáveis e usava a linguagem popular para transmitir seu grande saber. Coletou histórias populares pelo Brasil e pelo mundo e as contava em prosa amena pelas universidades de todo o Brasil. Pouco tempo antes de sua morte ele ministrou uma de suas aulas-espetáculo no Festival de Inverno de Garanhuns, no Agreste de Pernambuco. Em Brasília, apresentou para um enorme público sua aula espetáculo em forma reduzida, como ele gostava de falar. Está no youtube essa maravilhosa fonte de conhecimentos da cultura brasileira. De modo bem natural, ele continua transmitindo a mais profunda sabedoria.

Ariano foi o idealizador do Movimento Armorial a partir dos anos 70, que teve como objetivo criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste Brasileiro. “O Armorial significa a coleção de armas, brasões ou insignias de um povo, um agrupamento ou movimento. No Brasil, a Heráldica, a arte que cuida das insígnias, é extremamente popular. Você vê isso nas camisas, bandeiras e flâmulas dos clubes de futebol …” explicou ele em 1996 à TV Cultura de São Paulo. Tal movimento procura orientar para esse fim todas as formas de expressões artísticas: música, dança, literatura, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura, entre outras expressões.

Obras de Ariano Suassuna já foram traduzidas para inglês, francês, espanhol, alemão, holandês, italiano e polonês.

Em 2002, Ariano Suassuna foi tema de enredo no carnaval carioca na escola de samba Império Serrano. Em 2008, foi novamente tema de enredo, desta vez da escola de samba Mancha Verde no carnaval paulista. Em 2013 sua mais famosa obra, o Auto da Compadecida foi o tema da escola de samba Pérola Negra em São Paulo.

Há alguns meses, na véspera de seus 87 anos, Ariano, quando viajava sozinho, para ministrar sua aula em Brasília, foi visto deitado no chão do aeroporto JK. Ao ser questionado pelas condições, ele simplesmente explicou que gosta de se deitar de vez em quando e deitava-se onde estivesse.

“No Sertão do Nordeste a morte tem nome, chama-se Caetana. Se ela está pensando em me levar, não pense que vai ser fácil, não. Ela vai suar! Se vier com essas besteirinhas de infarto e aneurisma no cérebro, isso eu tiro de letra”, disse ele, em dezembro de 2013, durante a retomada de suas aulas-espetáculo.

Em março deste ano de 2014, Ariano foi homenageado pelo maior bloco de carnaval do mundo, o Galo da Madrugada.  Ele pediu que a decoração fosse feita nas cores do Sport Club Recife, vermelho e preto, e ficou muito contente com a homenagem. “Eu acho o futebol uma manifestação cultural que tem muitas ligações com o carnaval”, disse, na ocasião.

No mesmo mês, o escritor concedeu uma entrevista à TV Globo Nordeste sobre a finalização de seu novo livro, “O jumento sedutor”. Os manuscritos começaram a ser trabalhados há mais de trinta anos.

Adeus, Ariano que o sono lhe seja leve como foi a sua vida. Descanse em paz!

E sigamos a sonhar com a consciência de que temos de fazer nossa hora e nossa vez.

Comentários
  • verly 3773 dias atrás

    Você é bamba no assunto hein Milton. Abraços

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