Todos os anos, quando vem chegando o Carnaval eu me recordo de quando mudei para a Capital em janeiro de 1960. Minha maior expectativa era ver de bem pertinho o carnaval dessa Belo Horizonte. Os festejos de Momo eram muito diferentes do que são hoje. Eram outra coisa. O carnaval se caracterizava por festas, divertimentos públicos, bailes de máscaras e até manifestações de folclore e bom humor.
Relembro um pouco mais a nossa tradição momesca. O carnaval em Belo Horizonte inicia-se em 1897 quando os primeiros operários que construíam a nossa cidade enfeitaram carroças, se vestiram de mulheres, pintaram as caras e fizeram um desfile pelas imediações da Praça da Liberdade. Entre os operários havia muitos músicos. Ainda em 1897, os músicos-operários animaram o primeiro baile popular. Historicamente ali foram edificados os principais pilares da nossa folia momesca.
O desfile de carroças fantasiadas gerou o “corso”. As carroças viraram carros, o corso ganhou destaque, e eram muitos os carros de empresas ou de famílias tradicionais, que desfilavam pelas ruas de Belo Horizonte.
Os bailes populares transformaram-se em uma das maiores tradições de nossa cidade. Nas ruas, praças, clubes e até nas escolas o nosso povo pulava carnaval cantando sambas e marchinhas. Pintavam-se rostos, usavam-se máscaras. Quantas noites amanhecemos no Clube do Sindicato dos Bancários, ali na rua Tamoios esquina com Paraná!?
Os operários que pintaram os rostos e desfilaram batendo latas e tambores em cima das carroças, criaram o que ganhou muitos anos depois um nome marcante no nosso carnaval: os blocos caricatos.
Retorno ao começo dessa escrita quando cheguei à Capital. Já no ano de 1960, minhas paixões eram duas: mulheres, louras, morenas, mulatas ou ruivas, e o carnaval. Em minha casa, eu que já vira no cinema os grandes carnavalescos exibindo-se, ensaiava escondidinho e, na minha cabeça, fazia naturalmente todos aqueles passos e trejeitos com a mesma perfeição. Ninguém me contestava porque jamais revelara esse segredo a ninguém.
Belo Horizonte tinha um carnaval muito melhor do que é hoje. Blocos caricatos com filhinhos de papais fantasiados de mulheres como o “Domésticas de Lourdes”, “Bocas Brancas da Floresta”, “Imigrantes da Abissínia” estes usavam tinta preta no rosto e no ante braço e mantinham luvas branquíssimas contrastantes; “Carrascos da Pedro Segundo”; “Satã e seus Asseclas”; “Leões da Lagoinha”. Alguns blocos se tornaram famosos e desfilavam em cima de caminhões alugados já que aquela gente e seus familiares costumavam ter excelentes condições econômico-financeiras. Na época, as más línguas diziam que muitos daqueles que se travestiam-se em mulheres na realidade apenas estavam “soltando a franga”.
Não era verdade, pude constatar nos anos seguintes. Os rapazes continuavam machos de verdade sob as vestimentas. As fantasias discretas, muito coloridas, com pudor e respeito, eram muito bem feitas. Registro o “Aflitos do Anchieta” que vim a conhecer mais tarde.
Destacavam ainda os Grêmios Carnavalescos e as Escolas de Samba, como a Grêmio Recreativo e Escola de Samba Unidos da Brasilina. Os integrantes dessa Escola de Samba desciam em ônibus regulares da Viação Vitória que saiam do Bairro Sagrada Família e chegavam ao Centro da Cidade superlotados. Esse Grêmio ainda hoje está “vivo” nos anais do carnaval de Belo Horizonte. Tudo era pago pelos participantes, seus amigos e admiradores, os próprios vizinhos ou viabilizados através de contribuições populares… Não era “pasteurizado” como passou a ser nos últimos anos, tudo patrocinado pelo Poder Público só para distrair os pobres da periferia que não tem dinheiro para fugir do tédio. Mas parece que bons ventos estão soprando. O prefeito Márcio Lacerda está participando das atividades de organização do Carnaval 2010, e prometendo melhorar muito o carnaval para 2011, e, entre outras coisas, tirar o carnaval de rua do exílio, trazendo-o de volta para o centro.
Comentários
Por acaso entrei neste site, falando dos blocos caricatos de BH. Durante dez anos desfilei no melhor bloco de BH ” Os Bocas Brancas da Floresta, me desculpem os demais. Fui seu último presidente e seu último desfile foi em 1968. Anos depois no centenário de BH 1997, fomos convidados para ir a festa Pré-carnavalesca- Feijoada do Lopes, organizada pelo Jornalista José Lopes o sucesso foi tanto que voltamos nos dois anos seguintes.
A turma já a maioria de cabeças brancas ou carecas, não tinham perdido o ritmo.
Quantas saudades, quantos amigos já não estão mais nesta dimensão.
Hoje,morando em Cabo Frio, ainda guardo com muito carinho a famosa Palheta, a camisa tricolor, as luvas brancas e as meias pretas que cobríamos os braços.
Se alguém daquela época ainda estiver por aqui, entre em contato-
Prezadissimo Marco Antonio
Você residiu na Rua Varginha – na subidinha – ali após a Pouso Alegre – trabalhamos numa época na Fosfértil.
João Marques de Vasconcelos como presidente.
Ainda lembra ?
Ainda tenho LUVAS – MEIAS PRETAS que enfiávamos nos braços e o que julgo ser PRINCIPAL – A CAMISA.
Onde o encontro ?????????????
Sou de sua época – aquela de ouro que brindou o BLOCO BOCAS BRANCAS DA FLORESTA – quando ganhávamos quase todos os desfiles da Afonso Pena – êta época de ouro e de lembranças inesquecíveis -.
Ensaios, muitos deles alí na Itajubá com Salinas e pelas redondezas da Floresta.
E o POPOCA – o saudoso do SURDÃO –
Desfile memorável aquele em que saimos da área da Rodoviária – com aquela SCANIA –
E as participações – antes dos desfiles – com o samba bem tocado e cantado na Rua da Bahia – mais precisamente na Gruta Metrópole –
As roupas, trocávamos na casa do CHARLES (outro membro) morador daquele prédio da Sapataria Americana (Afonso pena com Tupinambás), etc……etc……..
ESQUECI – AS LUVAS BRANCAS TAMBÉM
Edgard
Meus tios saiam nesse bloco, os primos de meus tios, ensaiavam na rua Macedo na casa da minha avo, rua São Manoel, bons tempos
Fala MARCO ANTONIO
Tudo bem contigo por aí no Cabo Frio?
Tamos na luta aqui no BH.
Cada vez que passo pela Floresta, não esqueço nunca do saudoso Bocas Brancas.
Sou originário do IAPI – onde tinhamos diversos componentes –
Vou muito por lá.
Mande uma forma de contato.
Abraços.
Edgard
SOU AMANTE DOS BLOCOS CARICATOS, FICAVA FASCINADO VENDO OS DESFILES NA AFONSO PENA, DESFILEI NO MULATOS DO CARLOS PRATES E NUNCA MAIS PAREI, HOJE SOU PRESIDENTE DO BLOCO MULATOS DO SAMBA, ANTIGO MULATOS DO CARLOS PRATES, TIREI CARLOS PRATES PORQUE AGORA SOMOS DO BAIRRO SANTO ANDRÉ, GOSTEI DA MATERIA, SEMPRE PROCURO MATERIAS SOBRE BLOCOS CARICATOS, ABRAÇO.
Desfilei durante anos no Bloco Colored’s da Floresta (cuja sede na verdade ficava em Sta. Teresa). No dia do desfile dos blocos caricatos a média de público batia acima de 100 mil. O grande mal foi quando resolveram alterar o formato dos blocos criando limites de integrantes, exigindo até porta-bandeira e samba de enredo. Os blocos não tinham estrutura para tal, pois eram agremiações familiares. Pimenta da Veiga, então prefeito, praticamente acabou com o carnaval de rua em 1989 não dando às entidades o subsídio, já que o regulamento na época proibia qualquer tipo de publicidade, mesmo subliminar.
Nos anos 1960 os blocos que me lembro:
Satã e seus Asseclas.Academicos de Sta Teresa.Paladinos do Samba.Colored’s da Floresta. Modernistas do Ritmo. Bocas Brancas.Bocas Negras.Corsários do Samba. Cavaleiros Negros. Maloqueiros
Galãs do Ritmo. Invasoresdo Santo Antônio.Mulatos do Carlos Prates. Demônios do Calafate. Domésticas de Lourdes.Leões da Lagoinha.Cacarecos de Sta Efigênia. Imigrantes da Abssinia.
Os Inocentes chegaram nos anos 1970.Ainda está faltando um monte.
Muito obrigado meus leitores. Tenho pesquisado bastante e ainda em Janeiro enviei ao Editor um longo ensaio mas que não dá para publicar no Porta Metro devido ao tamanho. É bom todo mundo afinar os instrumentos porque no ano que vem BH vai ser o melhor lugar para se passar o carnaval. Teremos blocos em todos os bairros, concentrações em todas as regionais e Santa Tereza será o núcleo de toda a folia. Estou me organizando bem para que a paz e a alegria sejam contagiantes.
Vamos lá todo mundo.
E aí…alguem dos Cacarecos de Santa Efigênia vivo neste mundão de Minas? Pois é…Bloco caricato em BH deveria ter tido o total apoio dos governadores, prefeitos, políticos, empresários fortes de BH e assim sendo, teríamos um desfile de bloco aos moldes dos desfiles das escolas do Rio…sabem porque? SE TIVESSEM INVESTIDO NO PESSOAL DAQUI AJUDANDO NO QUE PRECISASSE, o desfile de blocos seria destaque em todo o Brasil e se bobear, no mundo porque, carnaval no Brasil todos lá fora acompanham. Poderiamos ser famosos como os bonecos de Olinda, o Bacalhau do Batata…mas como mineiro é só solidário no câncer…