Nos dias em que passa em seu sítio Estação, no município de Abaeté, Nelson, marido de minha sobrinha Cida, experimentando a vida de aposentado, caminha ligeiramente, entre 5 e 7 horas da manhã. Vai de sua casa até um aeroporto particular que fica a alguns quilômetros da sua porteira. Nelson dá continuidade, na roça, às caminhadas que faz, obrigatoriamente, na cidade.
Na manhã de terça feira, dia 6 de outubro, Nelson, depois de completar a caminhada rotineira, acrescentou no trajeto o trecho no sentido oposto rumo à Fazenda São Lourenço, da Tia Rosária e Tio Nonô. Fora dar um abraço de parabéns à Tia Rosária, como, carinhosamente, tratam a querida tia de sua esposa Cida. Dia 7 é o seu aniversário daquela senhora e, como ele viajava no dia 6, antecipara a saudação.
No meio do caminho para a Fazenda, um encontro inesperado.
Parado no meio da estrada, um grande tamanduá bandeira equilibrou-se nas patas traseiras, levantou o corpo e abriu os braços com um grunhido desconhecido. Nelson, para evitar o perigoso encontro, atravessou a cerca lateral da estrada, caminhou por entre o cerrado e saiu logo depois do lugar onde se encontrava o animal.
Também o Leo, trabalhador daquelas redondezas e que veio logo a seguir, ainda cruzou com o animal na estrada.
Chegando à Fazenda São Lourenço, Nelson comunicou o fato aos proprietários e a seus filhos Marquinhos e Marcinho. O Marquinhos que já estava operando a pá carregadeira dispôs-se a dirigir-se ao local, onde o bicho fora visto, na esperança de encontrar o animal, possivelmente machucado, e retirá-lo do meio da estrada para evitar seu atropelamento por outros veículos.
Não o encontrou.
Ficamos sabendo, pelo Nei, responsável pelas atividades do sítio, que transita por aquele território, um outro animal daqueles.
O tamanduá é, naturalmente, um animal desengonçado, com pouquíssima visão e audição, no entanto, quando se sente ameaçado, utiliza as suas enormes garras para se defender. O tamanduá mede cerca de 2 metros de comprimento e pesa cerca de 40 quilos. Tem um focinho afilado e uma língua comprida que utiliza na captura das formigas que servem para sua alimentação. Segundo o Nei, conhecedor da cultura rural, o Tamanduá enfia a língua no buraco do formigueiro e espera que as formigas se acomodem nela para devorá-las.
O animal, diante de outros animais ou de pessoas, levanta-se sobre as patas traseiras e abre os braços mostrando as garras, como se fosse dar um “abraço”. Na realidade, este é um “abraço mortal”, pois as garras do tamanduá são muito fortes, capazes até de matar uma onça-pintada.
A partir desta posição, a expressão idiomática “abraço de tamanduá” começou a ser utilizada para definir abraço ou cumprimento de uma pessoa falsa, ou seja, que deseja o mal para a pessoa que cumprimentou. Esta expressão surgiu a partir da observação de uma tática de ataque e defesa do tamanduá-bandeira, espécie de mamífero bastante comum na região do cerrado brasileiro.
Portanto, se encontrar por aí um desses animais abrindo os braços para você, preste atenção: é um abraço de tamanduá.