Na cadeira da varanda, mais uma vez eu voava nos pensamentos e lembranças. Pensava na brevidade da vida e na impermanência, quando me veio a música de Lulu Santos: “tudo muda o tempo todo, no muuuuuuundo!”
Sentia o frescor do vento no meu rosto. E fiquei admirada com o bem estar que isto me trouxe. Tão simples! E esta sensação provocou uma viagem no tempo. E fui puxando nos fios da memória cenas de quando menina corria pelo quintal. Cada canto deste quintal eu conhecia com detalhes: onde estavam os formigueiros, os ninhos de passarinhos, as árvores e suas folhas e frutos. Comer fruta, goiaba, mexerica, manga, ameixa, caqui e tantas outras, colhidas ali mesmo.
Este quintal era do tamanho do mundo. Ali inventávamos, eu e meus irmãos, brincadeiras e histórias. Em alguns dias, aventuras emocionantes e perigosas, desde a caça a tesouros, viagens longas, escalar picos e morros, construir cidades, fabricar tijolos de barro, montar fazendas…. Era comum também brincadeiras como “soltar papagaios”, jogar bolinha de gude, jogar maré. Tempo de se entregar a cada momento presente. O contato com cada morador deste quintal era emocionante: as pedras, a terra, os bichos e insetos e as plantas. No final de um dia no quintal, muitas vezes o joelho estava esfolado, as roupas e o corpo cobertos de terra e poeira.
Havia uma alegria leve e simples. Foi neste tempo que aprendi gostar de andar descalça, pisar na terra.
Como foi bom meninar no quintal da minha infância!
Comentários
Oi Sânia querida,
Muito gostoso ler o seu relato do ” meninar” no quintal da sua infância .
Poder relembrar,com leveza, esses momentos é realmente muito precioso.
Penso que poder “meninar” nos traz a criatividade na vida.
Beijos
qdo escrevi ” Meninar” publiquei assim sem revisão, como as palavras chegaram… Depois, relendo, vejo que dizer que este quintal era tamanho do mundo de alguma forma se inspirava no poeta Manoel de Barros ” Meu quintal é maior que o mundo”. Ai fico refletindo como este brincar livre na terra e nos quintais foi constitutivo e marcante na minha infância E será que este não deve ser um direito fundamental das crianças?!
Que delicia e leveza de alma vc relata o meninar de todos nós.
Cada vez que assim recordamos, entramos neste interior e passeamos, brincando, cantando e fazendo peripécias .
Agora entendo como foi lindo seu sonho do Projeto da Escola MENINAR……
Vamos continuar a Meninar?????
Olá Sânia,
Gostei muito do termo meninar: Foi a primeira vez que o ouvi. Chamou-me a atenção o inicio de seu artigo quando você fala da “brevidade da vida e na impermanência”. Se todos pensassem nisso com mais freqüência, talvez fossem individualmente menos felizes, mas a coletividade realmente teria muito a lucrar com isso.
Seu artigo, com certeza, desempenhará um grande papel na educação e compreensão dos pensamentos e atitudes de meu filho Hugo, de apenas 4 anos de idade. É possível que eu mude muitas de minhas atitudes com relação a ele e na compreensão de suas necessidades e manifestações.
Muito bom.
Um abraço
Carlos Foscolo
Sânia querida,
Meninar eternamente faz parte da história daqueles que não têm medo de ser feliz.
É estar aberto as delícias da imaginação.
Beijo grande!
Vaninha