Eh, Vida de Gado!

Publicado por Sânia Campos 25 de novembro de 2010
Eh, Vida de Gado!

Eh, Vida de Gado!

Campanhas educativas associadas à aplicação de multas no trânsito têm contribuído para conscientização de motoristas e passageiros sobre a importância do uso do cinto de segurança.

Entretanto eu, que concordo e aprovo estas medidas, fico intrigada com uma questão. Os mesmos gestores de órgãos estaduais como o DER e municipais como a Bhtrans, a Transcon e a Transbetim, dentre outros que investem nestas campanhas e organizam a cobrança de multas, também autorizam e regulam o transporte urbano intermunicipal.

Como usuária, fazendo principalmente o trajeto de Belo Horizonte para Betim e vice versa, enfrento os engarrafamentos e o trânsito pesado da BR 381 e fico indignada com as condições e a qualidade deste serviço público. É muito comum que vários passageiros viajem em pé nos ônibus lotados, devido aos longos intervalos de tempo entre os ônibus que passam nos pontos e aos atrasos e descumprimento dos horários, causados principalmente pelos engarrafamentos e acidentes freqüentes neste trecho da rodovia. Não é necessário dizer dos impactos e do cansaço causados por uma viagem nestas condições e que, muitas vezes, dura mais de uma hora, com riscos de freadas bruscas. Os bancos são de fibra de vidro e sem o cinto de segurança, até mesmo os passageiros que conseguem viajar sentados não têm suas vidas protegidas de forma preventiva. Eh vida de gado!

Outro dia, um colega de trabalho chegou chateado porque deu uma carona e o passageiro não usou o cinto de segurança e ele então foi multado. Concordo com a multa e a obrigatoriedade do uso do cinto. Eu só não entendo porque os passageiros de coletivos (em geral, população de renda mais baixa) podem andar assim, sem nenhuma proteção e segurança em plena rodovia.

Será que prevalece a idéia de que existem cidadãos (patrícios) e o “povo” (plebeus) como na Roma escravagista? E para o povo vale qualquer coisa, qualquer serviço? De um lado sabemos que as empresas que operam o transporte coletivo através da concessão pública buscam maximizar seus lucros. A mais recente estratégia foi operar com ônibus sem o trocador, onde o motorista acumula funções.  Este é um setor que para aumentar seu faturamento ainda trabalha com formas bem arcaicas de extração do máximo de sobretrabalho, a chamada “mais valia absoluta” discutida no final do século XIX, por Karl Marx. Mas o que me espanta é a insensibilidade humana e social da tecnocracia que planeja as políticas urbanas e sociais. Em gabinetes desenham fluxos, “marcos lógicos”, decretos e regulamentos. Há um embotamento, um “emburrecimento” institucional que me assusta e a desmobilização das lutas e movimentos coletivos e sociais facilita o fortalecimento desta cultura técnica pouco dialógica e burocrata, que cresce nas entranhas do Estado brasileiro.

Penso que não só nesta área dos transportes públicos, mas em outros setores das políticas sociais, como a educação, saúde e assistência social, é urgente que os “técnicos” saiam de seus gabinetes, abandonem um pouco seus “marcos teóricos” e prestem atenção na vida que flui cotidianamente nas ruas e em todos lugares e cantos  da cidade.

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