Sacerdócio e Política – Parte 4 – Política no Evangelho
Os Evangelhos nos ensinam que o mestre Jesus de Nazaré foi condenado à morte por um complô dos poderes políticos, econômicos e religiosos de sua época. No tempo de Jesus os partidos políticos eram também religiosos: a mesma lei organizava o culto ao Deus único e a vida política do povo. Cada partido defendia um programa diferente dependendo dos seus interesses. Jesus adota uma atitude crítica em relação aos abusos do poder pelas classes dominantes.
As comparações utilizadas por Jesus, segundo os textos dos Evangelhos, esclarecem a sua posição frente aqueles que usam do poder político para oprimir e dominar: “vocês carregam o povo com fardos difíceis de levar, e nem sequer com um dedo tocam nesses fardos” (Lucas, cap. 11,46), Jesus também enfrenta o poderoso Rei Herodes, taxando-o de raposa (Lucas 13,32). Mais ainda, Jesus questiona a legitimidade dos responsáveis da nação judia: “Eles serão expulsos, como aconteceu com os gerentes da plantação de uvas; essa será entregue a outros.” (Marcos,cap. 12,9). Assim Jesus enfrenta os conflitos gerados pelo sistema político das autoridades da Palestina, desmascarando a falsidade e a opressão.
Porque Jesus morreu? Uma causa incontestável por diversos estudiosos e teólogos a respeito do assassinato de Jesus é a questão do poder político. Os dirigentes religiosos e políticos dos judeus daquele tempo para condenar Jesus à morte apelam para Pilatos, representante legal do Império Romano, transferindo-lhe a responsabilidade sobre seu julgamento e execução. Foram levantadas todas as acusações de subversão política contra Ele.
Apresentaram-no diante de Pilatos como um homem politicamente perigoso para o poder romano, quando o acusam: “encontramos este homem subvertendo nossa nação, impedindo que se paguem os impostos a César e pretendendo ser o Messias-Rei” (Lc 23, 2). Quem tem fé, sobretudo fé cristã e católica, tem maiores razões, condições e instrumentos para fazer política a partir da ótica da fé. Será que ainda podemos dizer que Jesus não tomou partido? Não podemos afirmar categoricamente que Jesus teve simpatia por algum partido político de sua época, mas podemos afirmar com toda convicção que Jesus assume a identificação de sua missão na defesa da vida dos pobres, marginalizados, oprimidos e excluídos de sua época.
“O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos, e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor” ( Lc. 4,18; cf.Is 61,1-2). Portanto não participar da Política, com “P” maiúsculo, omitir-se, é a pior forma de fazer política para alguém que se diz cristão, seguidor de Jesus. A sabedoria popular diz: “A pior política é a política dos braços cruzados”. Política é uma das melhores formas de amar o próximo, pois busca a solução dos problemas a partir da raiz. É onde se tem a oportunidade de prestar um serviço de qualidade a uma população, em especial o resgate da cidadania ao menos favorecidos e aos que vivem na exclusão Social.
Durante o VI Encontro Mineiro dos Padres na Política Partidária, realizado em Belo Horizonte em 2008, foi redigido um manifesto que continua atual, e o tomei como base para construir este texto, e transcrevo sua conclusão: “Repudiamos com indignação a postura de quem pretende ser dono das pessoas e do poder e faz o que quer sem pelo menos escutar o outro. O problema não é os padres participarem da Política. O problema é muitos padres abandonarem o mundo da Fé-Política.
Provavelmente, o engajamento de padres na política partidária, questão controvertida para muitos setores eclesiásticos, expressa o que os evangelhos fizeram questão de registrar sobre o testemunho de Jesus ameaçado de morte (e de ressurreição): “Não penseis que vim trazer paz à Terra. Não vim trazer paz, mas a divisão” (Mat 10,34; Lc 12,51). O Galileu enfrentou os conflitos, tomou partido do lado dos oprimidos e por isso foi condenado à morte. Não se contentou com uma paz de cemitério, nem com uma unidade aparente.”
Finalmente caro leitor, seja votando em padres ou não, o que não podemos mais tolerar é conviver com políticos despreparados assumindo cargos na condição de nossos representantes. Contrários ao processo de dominação e espoliação, devemos buscar uma alternativa para mudar o modelo clientelista de se fazer política e assumir uma postura respeitosa e responsável com os nossos semelhantes, nos aproximando da ética e enfrentando as práticas de extorsão e corrupção, que em tempos atuais, parecem ser inerentes à condição humana, mas que na realidade impregnam nosso Sistema Político caduco.
Permita-nos nosso Deus que as eleições de outubro desse ano de 2012 possa trazer para nós e para nossa sociedade maior consciência cidadã, que os eleitos possam contribuir de fato com a construção de uma nova sociedade. Nestes tempos de mudança, apreender a sabedoria do bem viver, ou seja, abrir nossas mentes, saber conviver conosco mesmos, com os outros e com a pluralidade e diversidade da sociedade em transformação.