Judaísmo, Islamismo e Cristianismo – parte II
Continuação da parte I:
A resposta por meio do diálogo
Se compararmos o Antigo e o Novo Testamento vamos perceber que a ideia de Deus no primeiro era bem mais pesada e exigente, era uma religião legalista, ou seja, seus preceitos precisavam ser cumpridos literalmente, possuía a imagem do Deus da guerra, onde prevalecia a nova constituição do povo judeu, os dez mandamentos, que teriam sido entregues pelo próprio Deus a Moisés para organizar o povo vindo do Egito nas terras da Palestina.
Vejamos que enquanto no AT Deus defende condenações como por exemplo o apedrejamento, pelo simples motivo de não ter respeitado o sábado e trabalhado no dia sagrado, no NT Jesus defende quem poderia ser apedrejado ou que tivesse cometido algum outro “pecado”, pois afinal de contas os apedrejadores estariam limpos dos pecados?
Jesus falava que era preciso ter atitude de compaixão e misericórdia com os “pecadores” e defendia a ideia do perdão, dizendo que quem não tivesse pecado atirasse a primeira pedra, fato descrito no NT, como aconteceu com a mulher apanhada em adultério e que iria ser apedrejada em praça pública, era preciso poupar a vida dessas pessoas, amenizando as duras penas do judaísmo ortodoxo. Para os membros do Sinédrio, tribunal das leis judaicas, principalmente os sacerdotes, a prática de Jesus havia se tornado uma ameaça a seus princípios, pois transformava as leis religiosas em letras mortas, por desafiar a imposição das penas ali previstas.
Jesus com os seus ensinamentos, muitas vezes, usando analogias e parábolas, foi mudando a mentalidade, a ideia e a imagem de Deus dos seus convertidos. Antes de ser torturado e condenado à morte na cruz, pena comum a quem era considerado malfeitor, Jesus reúne seus discípulos e apresenta um mandamento novo: amar uns aos outros até as últimas consequências e para motivar o grupo, surpreende a todos, durante a sua última ceia pascal com um gesto de lavar os pés dos apóstolos e pede lhes para assumir o espírito servidor.
Jesus portanto torna a ideia do Deus da guerra, em Deus do amor, da misericórdia e do perdão. Dizia que era preciso respeitar o próximo, amar os inimigos, ter compaixão dos pobres e necessitados, perdoar as ofensas que alguém fizesse contra nós e amar sem medida e sem esperar recompensa alguma.
Jesus a partir dos seus ensinamentos não propôs a criação de nenhuma outra religião, mas fez surgir portanto o cristianismo, como divulgação de seus ensinamentos, como forma de viver, mudanças de atitudes, um comportamento exclusivamente humano na relação com as outras pessoas e no convívio na grande casa comum. Esse pensamento exclusivo de Jesus no decorrer da história vem influenciando milhares de seguidores convertidos. Hoje essa nova doutrina religiosa é descrita no NT que trata da vida, da missão de Jesus.
Os judeus não aceitaram os ensinamentos e o comportamento de Jesus. Não aceitaram e não reconheceram Jesus como filho de Deus e continuam a esperar até nossos dias pela vinda do Messias, o salvador da humanidade prometido no AT.
Seiscentos anos depois de cristo, nasce na Arábia Saudita, em Meca, Mohamed ou simplesmente Maomé, dizendo ser ele o verdadeiro profeta, que veio com a missão que deus, Allah, havia pedido a ele para reescrever a Bíblia. Nascia, portanto, a partir do pensamento de Maomé, o islamismo que significa submisso, ou simplesmente os mulçumanos, com o seu livro sagrado do Islã chamado Alcorão. O islamismo é uma religião monoteísta que advoga a crença unicamente em Allah. Os muçulmanos acreditam na onipotência e onisciência desse Deus, além de crerem que ele é o criador do universo.
Para os mulçumanos o Alcorão não é nada mais nada menos que a Bíblia atualizada, reescrita agora de forma correta como Deus sempre quis que fosse. Assim podemos encontrar muitas semelhanças entre o Alcorão e a Bíblia. O próprio Jesus é citado por diversas vezes no Alcorão, mas como apenas um profeta que deve ser respeitado, mas o verdadeiro profeta enviado por Deus é Maomé.
Esses fiéis referem-se constantemente a Allah como “o clemente, o misericordioso”. Mas em nome de Allah, alguns grupos islâmicos que utilizam a religião para justificar suas ações são capazes de sacrificar a própria vida, morrer muitas vezes por suas ideologias, como no caso dos homens-bomba.
Finalmente, onde buscar as inspirações para a cultura da paz? Penso ser esta uma tarefa não fácil entre judeus e palestinos. O escritor Leonardo Boff nos leva a refletir sobre a cultura dominante, hoje mundializada, que se estrutura ao redor do desejo de poder que se traduz por vontade de dominação da natureza, dos interesses do outro, dos povos e dos mercados.
Talvez a resposta seja mesmo por meio do diálogo. A tarefa de construir um mundo melhor, humanizado, respeitando as diferenças, necessita mesmo acima de tudo, de diálogo. Dialogar qualifica a capacidade humana de se dirigir ao outro nas diferenças e nos parâmetros racionais das oposições.
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