Fernão de Magalhães – 500 anos da morte – parte III
Magalhães achava que a parte mais difícil da viagem já havia passado e restava apenas um pequeno cruzeiro pelas ricas Ilhas das Especiarias. Magalhães dispunha de mapas e globos que subestimavam a circunferência da Terra. Não conseguia nem imaginar a escala do Pacífico, um oceano que tem o dobro do tamanho do Atlântico e que cobre um terço da superfície da Terra.
Dessa forma, eles passaram os três meses seguintes atravessando o Pacífico em busca de terra. As condições eram horríveis e, pela falta de alimentos frescos o escorbuto começou a devastar a tripulação.
Assim contou o cronista Antonio Pigaffeta: “Durante três meses e vinte dias não conseguimos comida fresca. Comemos bolo, embora não fosse bolo, mas poeira misturada com minhocas e o que restava cheirava a urina de rato. Bebíamos água amarela, que estava podre, por muitos dias. Também comemos algumas peles de boi que cobriam a parte superior do pátio principal. O desespero dos marinheiros por causa das más condições dos navios causou diversos distúrbios.”
Em janeiro de 1521 atingiram o arquipélago de atóis de Tuamotu, na época quase desabitado, atualmente pertence à Polinésia Francesa. Só em março atingiram Guam, uma das ilhas Marianas, onde se reabasteceram de alguma forma. Passaram a chamar essa de Ilha dos Ladrões, certamente porque se sentiram prejudicados nas trocas que precisaram realizar. Quando Magalhães percebe o tamanho do Pacífico fica claro que as Ilhas das Especiarias não estão na semiesfera castelhana, ou seja estavam a Oeste da Linha de Data, na semiesfera lusitana.
A mente iluminada do capitão-general não se deu por vencida. Como Colombo, ele não admitia retornar de mãos vazias. Os portugueses haviam ocupado as costas da África, das Índias e da China, mas deixaram de fora aquele arquipélago mais a oriente, a Insulíndia, atuais Filipinas. Bingo! Afinal ninguém sabia onde passava a Linha de Data.
Quando ele chega àquelas ilhas e faz contato com os reis locais, percebe que há recursos, ouro… e decide entrar nas disputas políticas locais. Velha sabedoria romana: “Divide et Impera!” Magalhães inicia uma política de alianças. Mas o rei da ilha de Mactan se opõe firmemente. O comandante-em-chefe decidiu invadir a ilha com seu grupo de portugueses mais 40 membros da tripulação. Centenas de guerreiros de Mactan resistiram ferozmente, liderados por Cilapulapu, ou Lapu-Lapu. Em 27 de Abril de 1521 Magalhães foi emboscado e morto com uma flecha envenenada atravessada no pescoço e seu corpo nunca foi recuperado.
O navegador português não celebrou a vitória da expedição que sonhou, planejou e empreendeu, mas fincou a bandeira de Castela no Extremo Oriente! Vinte anos depois, em 1543, o explorador espanhol Ruy López de Villalobos deu ao arquipélago o nome de Las Islas Filipinas, em honra de Filipe II de Espanha. Com a chegada de Miguel López de Legazpi em 1565 o primeiro assentamento espanhol no arquipélago foi estabelecido, e as Filipinas se tornaram parte do Império Espanhol por mais de 300 anos. Disso decorreu a difusão do catolicismo romano, que predomina no país desde então. Durante este tempo, Manila, sua capital, se tornou o centro asiático do Galeão de Manila, que partia desta com destino a Acapulco, no México, consolidando a frota da prata no Pacífico.
A partir daí a expedição ficou sob comando do novo capitão, o espanhol Juan Sebastián Elcano (1476–1526), que passou a comandar a frota em direção às Ilhas Molucas, aonde chegaram em novembro de 1521, depois de vinte meses de exaustiva viagem. A nau Trinidad que era comandada por Magalhães foi capturada pelos portugueses e sua tripulação feita prisioneira. Com o pouco que havia obtido de mercadorias Elcano tomou o rumo de volta com as duas caravelas remanescente, Victória e Concepción.
Fernão de Magalhães e seus comandados nunca imaginaram que seriam os primeiros a dar a volta ao mundo, ele pretendia voltar pelo mesmo caminho da ida, até esbarrar na imensidão do Oceano Pacífico. Embora tenha parecido um fracasso em termos estritamente econômicos, a volta ao mundo de Fernão de Magalhães foi um sucesso comercial ao encontrar uma nova rota planetária, deu o primeiro passo para estender o império espanhol até o extremo oriente, estabeleceu uma base para difusão do cristianismo na Ásia, além de deixar provado definitivamente que a Terra é redonda e única, sem princípio, sem fim e sem limites.