VII – Torcidas Organizadas em Minas Gerais

Publicado por Mateus Resende, Abner Faustino e Rafael Orsini 12 de setembro de 2017
torcidas organizadas mg

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Sem diferir do fenômeno brasileiro, Minas Gerais também abriga suas próprias torcidas organizadas. Diante de tantas manifestações dentro das arquibancadas mineiras, Galoucura e Máfia Azul – as maiores torcidas organizadas de Atlético e Cruzeiro, respectivamente – são exemplos vivos de como funcionam os movimentos dentro dos estádios.

Galoucura

O Grêmio Cultural Recreativo Torcida Organizada Galoucura foi fundado em 11 de novembro de 1984, estreando nos estádios no mesmo ano de fundação em um clássico contra o Cruzeiro. O nome “Galoucura” é uma junção que significa loucura pelo Galo, mascote e apelido do Clube Atlético Mineiro, e, com seu boom na década de 1990, a TOG se tornou a maior referência nos jogos do Atlético.

A torcida surgiu a partir de um desejo de quatro amigos – Raimundo José Lopes, o Mundinho, Paulo César Ribeiro, o Melão, Fernando Antônio Fraga Ferreira e José Roberto Fraga,o Pitanga – para revolucionar o conceito de torcida organizada. Com a ajuda de alguns amigos e patrocinadores, foi realizada uma festa com cerca de mil participantes para levantar fundos para a nova torcida que surgia. Logo de início, a torcida ganhou mais e mais adeptos, e o desejo dos amigos se tornou realidade em pouco tempo: logo a Galoucura já era conhecida e respeitada nos jogos do Atlético e era presença garantida nos portões 9 e 12 do Estádio Mineirão.

Assim como seu nascimento se deu de forma imediata, a sua referência como maior torcida organizada do Atlético foi instantânea. Suas bandeiras, seus bumbos e seus mastros eram vistos em todos os cantos do Mineirão, virando o local para onde todos – inclusive as outras TOs do Galo – olhavam, seguindo seus passos e suas vozes. Com seu lema “garra, determinação e respeito”, a Galoucura virou a força referência das arquibancadas alvinegras.

Máfia Azul

No lado cruzeirense, o Grêmio Esportivo e Cultural Torcida Organizada Máfia Azul foi fundado no dia 5 de junho de 1977, a partir da ideia dos irmãos Henri e Éder Toscanini. Inspirados pelas torcidas já existentes nos jogos do Cruzeiro Esporte Clube – Cru-Chopp e Raposões Independentes -, os garotos de apenas 15 e 14 anos queriam criar uma torcida que representasse o bairro Floresta, localizado na Zona Leste de Belo Horizonte.

Já em 1976, quando a ideia surgiu, ambos contaram com a ajuda dos amigos Toscanini, Caquinho Ornellas, Emilinho, Tuña, Alexandre Bastão, David Tanure, Sérgio Braga, Ricardo Gatti, Reginaldo Lima, Alexandre Aguiar, o Careconi, Paulo Augusto, o Popeye, Leonardo Starling, Estevão Cupe, Juninho Patola, Lawrence Menezes e Frederico Martins para levarem os panos pintados – os lençóis dos irmãos – para o Mineirão, inaugurando assim o que se tornaria a maior torcida celeste.

Em 1983, o então presidente “Torrão” faleceu, o que causou um desligamento de um ano da torcida Máfia Azul dos estádios. Entretanto, antigos membros reinauguraram a torcida com o nome de Máfia Azul Cru-Fiel Floresta e recomeçaram sua luta por um espaço na arquibancada. Na década de 1990, a torcida teve um grande crescimento, se firmando como a maior referência nos jogos cruzeirenses.

Com alguns torcedores icônicos como o “Fubá”, a Máfia Azul dominava os portões 3 e 6 do antigo Mineirão, sendo a inspiração da torcida e de outras TOs que a seguiam nos seus cânticos, gritos e as múltiplas formas de transformar a Pampulha em um “mar azul e branco”.

As histórias das duas organizadas se cruzam pela rivalidade acirrada através do maior clássico de Minas Gerais. Atlético e Cruzeiro cresceram quase que no mesmo momento em que as primeiras torcidas organizadas surgiam pelo país, a partir da década de 1960. O Cruzeiro, campeão da Taça Brasil de 1966 – derrotando o Santos de Pelé -, ganhava novos adeptos a cada dia. A Taça Libertadores em 1976 alavancava o time no hall dos grandes do país, o que se confirmaria nas décadas seguintes. Nos anos 1990, mais uma Libertadores e dois títulos da Copa do Brasil agregaram uma força gigante ao time celeste, acrescidos de mais três Brasileiros e outras duas Copas do Brasil a partir dos anos 2000. Se restava alguma dúvida do tamanho do Cruzeiro, não havia mais.

O Atlético, por sua vez, era um time que teve seu reconhecimento quase que na mesma época do Cruzeiro. Único time a derrotar a seleção campeã de 1970, o Galo foi campeão brasileiro em 1971, chegando às finais de 1977 e 1980 – contra São Paulo e Flamengo, respectivamente. Em 81, foi desclassificado da Libertadores depois de uma arbitragem no mínimo questionável no encontro, mais uma vez, contra o Flamengo. O Galo se tornou, com o tempo, um time que sempre contou com uma torcida que não arredava pé do estádio, mesmo com os constantes reveses que sofria em campo. Em 1992 e 1997, conquistou duas Copas Conmebol. Nos anos seguintes, uma queda à Segunda Divisão nacional não abalou o tamanho do Atlético que retornou e, em pouco tempo, conquistou a Libertadores em 2013 e a Copa do Brasil em cima do maior rival, o Cruzeiro, em 2014.

Grandezas futebolísticas como Atlético e Cruzeiro criaram em suas torcidas um clima de rivalidade cada vez maior, acirrada a cada partida, a cada campeonato, a cada disputa que envolvesse as camisas alvinegras e celestes. Galoucura e Máfia Azul, já referências dentro das arquibancadas de seus próprios times, também se tornaram referências de ‘rivais a serem batidos’. As ocorrências cresceram exponencialmente, à medida que ambas cresciam em número de membros. Em semanas de clássico, os confrontos se intensificavam de tal forma que as TOs apareciam mais em páginas policiais do que nas esportivas nesses períodos, criando uma atmosfera de terror. De certa forma, tais ocorrências eram por muitas vezes intensificadas pelos veículos de mídia.

Porém, em 2010, o confronto não ganhou destaque apenas em Minas Gerais, mas em todo o Brasil. Após um evento de arte marcial, MMA, realizado na Savassi, região Centro-sul da capital mineira, integrantes da Máfia Azul foram espancados por membros da Galoucura que se encontravam neste evento; com um agravante: Otávio Fernandes, de apenas 19 anos, foi morto a golpes de paus e cavaletes. Depois da barbárie, diretores da TOG foram presos, com a mídia dando destaque ao evento sempre que possível. Galoucura e Máfia Azul passaram por uma fase de declínio, tendo uma grande queda no número de membros: enquanto a torcida atleticana perdia adeptos após a crueldade cometida, a cruzeirense buscava se reencontrar diante as divisões internas da própria TO. Com sua marginalização – que já ocorria antes mesmo do assassinato -, ambas perderam força e os clubes deram apoio a outras que surgiam, buscando resgatar um pouco do espírito da arquibancada uniformizada, sem ocorrências fora do campo. Anos após o ocorrido, a grandeza de Galoucura e Máfia Azul foi praticamente anulada se comparada com a festa realizada nos anos de 1990. A existência entretanto continua como forma de resistir às tentativas de retirá-las dos estádios.

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