Roberto Dimatthus, Artesão

Publicado por Nádia Campos 27 de fevereiro de 2012


Prefere ser chamado de artesão de instrumentos de cordas para não dizer “luthier”, termo que considera pesado para ele, por ter sido um descobridor do oficio. Roberto Dimatthus fabrica viola caipira, violão, cavaco e bandolim. Nascido em Linhares, no estado do Espírito Santo, hoje reside no bairro de Justinópolis, município de Ribeirão das Neves, próximo a Belo Horizonte, Minas Gerais, estado que considera um celeiro de grandes artistas. Já fabricou instrumentos para músicos como Renato Andrade, Pena Branca, Chico Lobo, Daniela Lasalvia, Zé Helder, Marcus Biancardini, Noel Andrade.  Como instrumentista acompanhou Renato Andrade, Chico Lobo, Pereira da Viola e Marcus Biancardini, fazendo bases no violão para acompanhar a viola.

Como começou o seu interesse pelo ofício?

Desde criança eu já sentia algo especial pela madeira, venho de uma família de marceneiros. Ao ver um instrumento eu sentia coisas boas que não conseguia entender. Quando eu fui crescendo e começando a me envolver com a música e construir o instrumento, uma paz começou a reinar dentro de mim. Eu via um instrumento como o violão e começava a chorar. Foi bem desta forma. Eu sou capixaba. Vim para Minas em 82, comecei a tocar por mim mesmo e observando outras pessoas. Não posso dizer que sou autodidata porque a partir do momento que você olha alguém e aprende algo desta pessoa, já não se pode considerar autodidata mais, ele é seu professor. Quando vim para Belo Horizonte conheci Renato Andrade, depois tive contato com Chico Lobo, Pereira da Viola, então estas pessoas foram me mostrando o mundo da viola. Na verdade quem sacava mais de viola era o Renato Andrade, depois os outros foram chegando e a gente passava as coisas para eles.

Como foi seu contato com Renato Andrade? Como evoluiu este contato? Quais são as lembranças boas que você tem dele?

Eu vi um show dele na Universidade Católica, hoje PUC, em Belo Horizonte. Vi aquele instrumento bonito e me aproximei. Até então conhecia as violas Tonante e Reis que o pessoal tocava em dupla. Agora aquela viola que o Renato estava tocando naquele teatro ali era uma viola mais clássica, diferente. Aquilo me encantou. Eu fui falar com ele, contei que eu tocava violão também. Dali nasceu uma amizade. Ele me deu seu endereço e começamos a tocar juntos. A gente viajou e eu fui conhecer o que era o som da viola. Gravamos dois discos juntos: em 1984 “O violeiro e o Grande Sertão”, em 2004 “Viola no Saco”, o ultimo trabalho dele. A gente deu muita volta tocando viola e eu fazendo base de violão. Tocamos por muitos anos, no Palácio das Artes em Belo Horizonte, no interior de Minas, e outras capitais como Brasília, São Paulo e Curitiba.

Sabemos que o Espírito Santo, é um estado rico em manifestações culturais. Na sua terra natal, Linhares existe alguma?

Tem o pessoal do Congo, mas é uma coisa mais religiosa. Naquela época eu era mais do Rock and Roll, gostava mais de Elvis Presley. Mas tinha sempre a viola de Tonico e Tinoco na cabeceira da cama. Porque o povo levantava cedo para ir para o trabalho escutando esta turma: Zé Betio, Mococa e Mola Fria, Tião Carreiro e Pardinho vários destes cantores de dupla sertaneja, caipira. Eu escutava vários deles. Quando cheguei em Belo Horizonte foi uma maravilha ter encontrado Renato. Eu pude ouvir a verdadeira viola caipira.

Qual é a fonte da madeira utilizada no seu trabalho?

Hoje na verdade não tem fonte. A gente sai por aí. Quando criança aonde morava a mata atlântica estava ali. Hoje ainda está, mas muito “protegida” pela Companhia Vale do Rio Doce. No meu tempo madeira era para se fazer casa, madeira era para se fazer ponte, era para se fazer móvel. Hoje por ser de lá, eu sei sempre aonde encontrar os toquinhos que ficaram no meio dos cafezais. Eu nunca derrubei uma árvore, nem pretendo. Madeira quando não é o vento que derrubou, é porque tá velha, de demolição de casas, sempre tôco, pedaços. É uma dificuldade de achar. Já não tem mais como antes. Hoje em dia colocam uma tora de madeira na máquina e lá frente sai um palito de dente. A tradição nossa é o Jacarandá, muito difícil de achar. O Cedro ainda se acha um pouco, mas é um trabalho como de garimpeiro, como os garimpeiros fazem no rio a gente está fazendo hoje com a madeira.

Você tem algum projeto em vista como instrumentista e artesão?

Tenho sim! Em 82 eu vim para Minas para estudar música e ser cantor. Mas a barra pesou e eu mudei a direção. O projeto, que vem de muitos anos, é fazer um CD e um documentário. Um CD com músicas dos amigos que eu conheci aqui no decorrer dessa estrada, os mineiros, que têm coisas muito boas! Falo que aqui é um celeiro, graças a Deus! Então dessa turma aí eu consegui resgatar muita coisa. Tenho músicas de Paulinho Amorim, Rubinho do Vale, Chico Lobo. Eu vou juntar o que tem a ver comigo e vou colocar neste disco com 13 faixas e vou colocar um livrinho de memórias com fotografias.

Você está vivendo em uma casa emprestada e agora tem um lote ao lado e esta tentando construir um novo local de trabalho e sua casa. Como vai ser sua nova oficina?

No futuro eu pretendo lançar um instrumento mais em conta. O espaço em que trabalho é muito pequeno. Lá terei espaço para guardar. É interessante fazer uma viola top de linha e um violão mais em conta. Ali terei meu showroom junto com minha casa.

Como é a divulgação do seu trabalho?

Tem sido boca a boca. Eu vou conhecendo os músicos e um vai falando para o outro. Eu ainda não investi em propaganda.

Qual é o seu contato?

É basicamente o telefone, que é 31-3638-6347. Através deste contato eu dou as indicações de como chegar até aqui. Geralmente eu sempre tenho uma viola para mostrar. De vez em quando eu toco violão mas eu gosto mesmo é da viola, me apaixonei por ela também. Aqui vamos sempre tentando fazer coisas boas. Fico aqui Deus e eu, eu e Deus, meu filho, e vamos pesquisando madeira, está difícil encontrar madeira, daqui um tempo não sei como vai ser.

Comentários
  • anacleto rossi 2861 dias atrás

    o grande luthier roberto dimathus realmente é um profissional de alta grandeza ,competencia e honestidade com que faz seus instrumentos musicais.é um homem iluminado pelo espirito santo.tenho tres violas caipira e um violão construido por ele são instrumentos de alta qualidade ,sonoridade ebeleza , recomendo seu profissionalismo e não paro por aí futuramente ele vai ter mais trabalho para seu amigo anacleto rossi ….

  • Elson Juarez 3434 dias atrás

    O Roberto Dimathus, tem uma particularidade em suas construções da arte musical…, com a viola ele fecha o cerco de todos os saberes como luthier e mestre…,

  • paulo henrique pj 3521 dias atrás

    robertao meu querido amigo… cara de carater te amo muito meu amigo e mestre lembranças de jaboticatubas mg

  • ROBERTO JUNIOR 3723 dias atrás

    AMO MUITO O TRABALHO DO MEU PAI PRA MIM É O MELHOR LUTHIER POR VÁRIOS MOTIVOS INSTRUMENTOS FEITO COM MUITO AMOR E DEDICAÇÃO,TOCO COM VIOLÕES NO PALCO E MUITO AFINADO E TIMBRE MUITO BOM PARABÉNS MESTRE

  • Leonardo 4084 dias atrás

    Tive o prazer de conhece-lo pessoalmente através de minha tia Fátima de Linhares, Espírito Santo!

    Ficou hospedado na residencia de meus pais, e tivemos o prazer de fazer uma roda de viola caipira!

    Uma simplicidade de pessoa com enorme talento tanto na fabricação quanto na musicalidade!

    Saudades
    Leonardo

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