Dentro das possibilidades que temos de bem informar e formar consciência crítica e autonomia de pensamento, consideramos ser importante divulgar a versão do governo da República Popular Democrática da Coréia (RPDC), ou Coréia do Norte, em Nota Oficial de 29 de maio último, através da ATCC – Agência Telegráfica Central da Coréia a respeito das condenações e ameaças públicas feitas pelo Conselho de Segurança (CS) da ONU com grande alarde na imprensa mundial no sentido de aplicar rigorosas sanções ao país e a seu povo, por considerar o teste nuclear uma violação da “Resolução 1.718” de 2006 daquele Conselho.
Essa resolução proíbe esse país de exportar ou importar qualquer produto ou tecnologia que não seja básico de alimentação, além do congelamento geral de fundos de propriedade do governo da Coréia do Norte no exterior. A resolução impede a possibilidade de o mesmo vender produtos ou tecnologias que presumivelmente pudessem ser utilizadas na produção de armas.
Oficialmente o CS estaria zelando pela não proliferação de armas nucleares. No entanto os países Membros Permanentes do CS disputam avidamente o mercado mundial de armamentos, e ampliam e sofisticam seus imensos arsenais nucleares, protegendo-se com a “vista grossa” recíproca. Incoerentemente no Oriente Médio os EUA, que lideram ou intimidam os demais participantes do Clube Nuclear, querem permitir que Israel desenvolva armas nucleares dizendo que são para sua defesa, e tentam impedir o Irã de fazer o mesmo. Não seria mais coerente que fosse proposto um desarmamento nuclear geral ao invés de apenas impedir determinados países não-alinhados com os EUA de fazê-lo? Não seria mais lógico e sensato se a ONU e seu Conselho de Segurança propusessem um desarmamento mundial começando pelas armas nucleares, e apresentando para isso disposição em abrir mão de seus mortíferos arsenais? Os EUA se acham dominados por grande crise moral após o afloramento das maiores denúncias de violação de direitos humanos de que se tem notícia, junto com a crise financeira traduzida em um déficit de US$ 1,8 trilhão, superior ao PIB da Itália. Está visivelmente perdendo a capacidade de promover guerras e intimidar outros países. Tornou-se um gigante com os pés de barro. Perdeu antes seu soft power, o poder do encantamento ideológico, e agora perde a capacidade econômica de financiar suas guerras e avançar em tecnologia de armamentos, sofisticando seus arsenais.
A Coréia do Norte reafirma na Nota Oficial sua determinação em defender sua soberania até as últimas conseqüências, e afirma ter feito todos os esforços para que os EUA retirassem suas armas nucleares da Coréia do Sul e Nordeste da Ásia. Insiste que a motivação dos países do Clube Nuclear é simplesmente manter seus privilégios comerciais e seu poderio intimidatório, e ao final deixa claro a quem serão atribuídas as responsabilidades caso se deflagre um conflito de conseqüências imprevisíveis.
Um fenômeno paralelo e real que não podemos desconhecer, é que a grande imprensa mundial, e também da América Latina, denuncia a atitude do governo norte-coreano como fruto do fanatismo e da irresponsabilidade, justificando toda e qualquer sanção contra o país. No entanto cabe relembrar o que já é de todos sabido, esses veículos da grande imprensa estão com imensas dificuldades financeiras e dependem cada vez mais da venda de opinião e aluguel da consciência de seus editores e proprietários, o que os faz afundar cada vez mais pela perda da credibilidade. Nesse sentido, quem não precisa vender pensamentos nem alugar consciência, fica numa posição privilegiada para trazer aos leitores outra versão para os fatos, estabelecendo o contraditório que deve ser o verdadeiro objetivo de uma imprensa autônoma e livre.
Abaixo a nota do porta-voz da Chancelaria da RPDC na íntegra:
“Durante várias décadas o nosso país veio realizando todos os esforços possíveis para desnuclearizar a península coreana. Entretanto, os Estados Unidos intensificaram continuadamente a ameaça nuclear, cuja eliminação é um fato cada vez mais remoto. Finalmente esse país rompeu o processo das conversações multilaterais ao violar flagrantemente o princípio de respeito à soberania e a igualdade entre as nações e os povos, que constitui o espírito fundamental da declaração conjunta, assinada por eles próprios no dia 19 de Setembro passado, questionando o sucesso do lançamento de nosso satélite.
Agora, esses países estão expressando seu espanto por nossa segunda prova nuclear. Mas, dizendo-se surpreendidos com nossa iniciativa, os membros do Conselho de Segurança da ONU apresentaram uma reação incoerente. O recente ensaio nuclear do nosso país foi, em escala planetária, o de número 2.054. Destas provas já realizadas, 99.99% foram executadas pelos 5 membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que agora se dizem espantados com nossa atitude.
A “Resolução 1.718” de 2006 do Conselho de Segurança da ONU é uma sanção contra a nação e o povo, e tenta golpear a soberania da República Popular Democrática da Coréia, sanção essa bancada justamente pelos maiores portadores de armas nucleares do mundo, países esses que continuam aumentando seus arsenais de destruição massiva. Que autoridade moral têm eles para qualificar de “ameaça para a paz internacional” a primeira prova nuclear que realizou nosso pais em Outubro de 2006, como medida de auto-defesa frente a crescente ameaça nuclear dos Estados Unidos na Península da Coréia?
Aquela “Resolução” inventada por tais hipócritas foi prontamente rejeitada pelo nosso país quando foi publicada. O Conselho de Segurança da ONU inventou no dia 14 de abril passado a “declaração presidencial” que questiona unicamente o lançamento do nosso satélite artificial com fins pacíficos, e no dia 24, efetuou a sanção correspondente à “Resolução 1.718” insultando a dignidade do povo coreano e a soberania da RPDC.
Nosso pais, que não se submeteu à impostura chamada “Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares” nem à outra denominada “Sistema de Controle de Mísseis” tem o direito de realizar quando considerar necessárias as provas nucleares subterrâneas ou o desenvolvimento de mísseis na medida em que nos sentirmos ameaçados em nossa segurança. Esta medida está dentro de todas as normas de direito internacional, e dos princípios da coexistência pacífica e da autodeterminação dos povos.
Já que o Conselho de Segurança promove uma cortina de fumaça para ocultar que a ameaça à paz mundial advém da ampliação e crescente sofisticação de seus imensos arsenais, ao fazer estardalhaço com o sucesso de nossos testes balísticos que nos coloca no caminho da tecnología espacial e de nosso domínio da tecnologia nuclear, que tem por finalidade quebrar essa exclusividade e garantir nossa segurança, dignidade e soberania, o nosso país quer deixar claro neste momento os critérios para atribuição de responsabilidades caso os fatos se encaminhem para uma escalada de efeitos devastadores.
A responsabilidade de tal desenvolvimento da situação recai totalmente nos Estados Unidos e nos países que lhe são subservientes ou que estão por ele intimidados, pois foram eles que iniciaram a escalada de intimidação contra o nosso pais, levando à ONU o pedido de sanções pela bem sucedida prova de lançamento do satélite coreano. Tais países que admitiram na mesa de negociações que o lançamento dos satélites artificiais é um direito dos estados soberanos, lideraram hipocritamente a campanha de censura na ONU quando o satélite foi lançado. São os mesmos paises que guardaram silêncio quando os Estados Unidos promoveram exercícios de guerra nuclear de grande envergadura na península coreana, denominados “Key Resolve” e “Aguilucho”, mas agora gritam que a prova realizada com segurança e sucesso representa uma “ameaça para a paz e a segurança da região”. Em outras palavras, querem agradar aos Estados Unidos e deixar claro que eles não aceitam que os países pequenos quebrem seu status privilegiado de senhores da guerra, e que simplesmente devem obedecer aos grandes.
Afirmamos nossa consciência de que nosso pais é realmente pequeno tanto na sua dimensão territorial quanto no contingente populacional, mas afirmamos também que nos sentimos orgulhosos e cheios de coragem por sermos uma digna e soberana potência política e militar.
Em segundo lugar, a RPDC exigiu oficialmente que o Conselho de Segurança apresente desculpas pelo crime de violar flagrantemente a soberania de um estado, fazendo a mesma coisa com o tratado dos foguetes e anule todas as resoluções e decisões forjadas hipocritamente.
Enquanto o Conselho de Segurança da ONU se recusar a atender nossa exigência, deixaremos doravante de reconhecer suas resoluções e decisões.
Terceiro, no caso de o Conselho permanecer na escalada de provocações, as medidas de auto-defesa serão inevitáveis e devastadoras. Embora o cenário mundial de guerra fria entre as potências tenha acabado, os ânimos continuam acirrados em igual intensidade na península coreana.
O “Comando das Forças da ONU” inventado pelo Conselho de Segurança, é precisamente uma parte signatária do acordo de armistício na Península da Coréia. As ações unilaterais do Conselho significam a quebra do acordo de armistício.
Breve o mundo vai testemunhar a disposição e determinação de nosso exército e de nosso povo em defender nossa dignidade e soberania, fazendo frente até o fim à coerção e às tentativas de intimidação do Conselho de Segurança da ONU.
Ministério das Relações Exteriores.
Pyongyang 29 de maio de 2009.”
Comentários
É interessante informar que o governo brasileiro soltou nota condenando o governo da Coréia do Norte por ter feito o teste nuclear.
Alguns dizem que a diplomacia do governo Lula é a o bom mocismo.
Eu acho que é a do Novo Rico, aquele capiau que ganhou dinheiro e comprou uma cota do clube da elite,e fica lá circulando em todas as rodas querendo se fazer aceito, mas como perdeu a identidade cultural antiga e ainda não achou a nova FICA SOBRANDO!
O governo brasileiro havia decidido trocar embaixadores com a Coréia do Norte, que já enviou seu embaixador a Brasília desde janeiro. No entanto, na semana em que o representante do Brasil naquele país já estava voando para lá houve o teste nuclear e as ameaças da ONU. O embaixador designado que já estava em Pequim teve ordens para permanecer em Pequim aguardando os desdobramentos da crise, e até hoje está nessa cidade. No entanto a Inglaterra que é membro permanente do Conselho de Segurança do ONU junto com a Rússia e a China mantêm embaixadas na Coréia do Norte, e nenhuma chamou o embaixador de volta apesar das sanções. Portanto não vejo motivos para o Brasil recuar da decisão de abrir a embaixada lá.