As eleições estaduais em Minas estão seguindo o mesmo caminho das eleições de Belo Horizonte. Quem não vive o dia-a-dia e não conhece o Velho Testamento da política mineira fica desnorteado. Para desorientar os profetas de plantão, o eleitorado montanhês anda em zigzag. Eleições de Belo Horizonte, 2008. Márcio Lacerda, candidato híbrido de tucanos e petistas, rivais na política nacional mas acochambrados na política de Curral Del Rei, começou muito acima dos outros: era o “Candidato da Aliança”. No primeiro turno foi orientado pelos proconsules a não ir aos debates com os “nanicos”.
Que ficasse despreocupado, pois seus fortes padrinhos iriam colocá-lo dentro do gabinete, sentado no trono … com a mão na caneta! Eram as instruções. Pois bem, “quem acha que mineiro é bobo, cai na boca do lobo” (Livro do Genesis). O candidato que foi para o segundo turno contra Lacerda era sem expressão, apenas foi o depositário da indignação de um eleitorado plebeu que se sentiu subestimado pelos príncipes da nobreza.
Lacerda podia ser um político inexperiente, mas jamais um poste. Guerrilheiro urbano no fim dos 60’s empresário bem sucedido e digno de respeito nas elites públicas e privadas da Capitania das Minas do Ouro, reputação ilibada, desvencilhou-se dos tutores, e no segundo turno mostrou a que veio: “Agora é comigo!” (Exodus).
Como Moisés que saiu do Egito com o povo judeu, disposto a cruzar o deserto, partiu para os debates no mano-a-mano e permitiu que os belorizontinos vissem que o poste tinha capacidade de buscar a própria seiva. Ainda não floresceu, pois está cercado por uma equipe que lhe foi imposta, mas é de se esperar que ainda rompa as amarras, ainda tem tempo para dar flores e frutos.
Mas, o que esta parábola tem a ver com a sucessão estadual de 2010? O filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel, o/a cara da foto acima, considerado o símbolo maior do idealismo, disse de certa feita que a história sempre se repete, ou seja todo evento histórico é no fundo a repetição de outro que pode ser encontrado no passado (dica de ouro para os profetas modernos). Discípulo de Hegel, que mais tarde criou sua própria escola, Karl Marx, após ter participado dos episódios revolucionários da Comuna de Paris (1848-1851) escreveu sua obra mais vibrante, apaixonada e rica em estilo, “Der achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte“, ou “O Dezoito Brumário de Luiz Bonaparte”. É nesta obra que afirma sua força literária, superando em definitivo o mestre:
“Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como comédia (farsa)”.
Pois bem, se esses dois filósofos alemães merecem crédito, a eleição de Lacerda foi uma tragédia, ou um drama. A de Hélio Costa vai caminhando para se tornar uma comédia, uma farsa. Do alto dos índices, com que sempre começa sua participação nas eleições majoritárias em Minas Gerais, Costa, como todos previam, vai “descendo a rua da ladeira” (Levítico). Como no Velho Testamento do futebol “quem não faz gol leva” (Números) “os pontos perdidos vão sempre para o outro lado” (Deteuronômio), por menos expressivo que seja. Todos já perceberam que a eleição mineira vai para o segundo turno. Da mesma forma como Lacerda começou o 2º turno, Costa deve beijar a lona. Mas será que, como Lacerda, terá capacidade de se levantar antes que o juiz conte até dez? “Tempo de morrer de rir e tempo de chorar em cântaros” (Eclesiastes).
Hélio Costa gastou seu dinheiro contratando a peso de ouro um publicitário picareta e inescrupuloso que lhe manda se esconder atrás de seu vice apático e amorfo. Mas ainda tem um bala no tambor. Se acreditar em Hegel, pode escapar da ironia de Marx, pode mostrar aos mineiros que não é somente uma “Memória dos Tempos Fantásticos”, título sugestivo de seu recente livro, que não é apenas um truque de imagem. Além de se livrar da armadilha em que se meteu, precisa mostrar que tem vontade própria, que pode buscar a própria seiva, que sabe a que veio, que tem algo melhor a oferecer, que tem um contraponto a fazer. Caso contrário estará apenas confirmando os prenúncios de Marx de que a história sempre se repete, da primeira vez como tragédia e na segunda como comédia, como farsa, da qual ele se tornará o personagem principal.
Comentários
Sinto que as pessoas não se sentem bem pensando que o outro candidato será um bom representante para Minas diante do Brasil e do Mundo. Porém muitos acham que o Helio Costa não é sincero quando fala que vai aumentar o salário dos professores e ao mesmo tempo vai diminuir o imposto da conta de luz e da água. As pessoas sentem que esta conta não fecha, o candidato parece não saber que vai ter que administrar as finanças do estado. Parece que ele está comendo na mão de algum marqueteiro idiota.
Desculpem a falta de jeito, mas há um raciocínio errado neste artigo. Na eleição de BH havia varios candidatos. Desta vez só tem dois, os outros somados não dão 2%. Por isso não vai haver 2º turno. Sobre a participação do Lula falada no comentário anterior, o objetivo dele é eleger a Dilma, ele não tem interesse pois o Anastasia tirou o Serra do programa dele, mais pra se beneficiar que para ajudar a Dilma, é claro. O Hélio Costa tem tudo na mão, o cavalo está arriado, o que precisa é atitude. O infeliz do marketeiro deve ter falado pro Hélio não criticar o governo Aécio, mesmo erro do Serra em relação a Lula. Será que o Hélio não acredita que pode fazer um governo melhor que o dos tucanos? Essa é uma espécie em extinção. Corremos o risco de ser o único estado do Brasil governado por essa gente elitista e arrogante.
Está saindo na imprensa que o candidato Hélio Costa está reclamando da falta da militância do PT mesmo com o Patrus na Vice. Está reclamando também da falta do Lula e da Dilma na campanha dele. Como militante do PT quero dizer ao candidato que militante do PT não anda atrás de cacique, não é porque o vice é o Patrus que a militância vai mobilizar .O que vai é a atitude do candidato e sua identificação com os anseios democráticos e populares da militância. Os governos tucanos vivem de marketing, e o povo não é bobo, ao contrário do governo tucano os petistas de Belo Horizonte estão acostumados a formas de governo com participação popular,é isso que a militância quer ouvir do candidato, ao invés de fazer um programa burocrático e técnico, queremos ouvir que haverá participação popular em seu possível governo. Essa é a forma de convidar a militancia, senhor candidato.
Na Folha de São Paulo de hoje 26/8/2010 há uma detalhada análise da pesquisa Datafolha mostrando a Dilma na frente em todos os Estados, com tendência de crescimento. Em certo ponto começaram a falar sobre uma possibilidade de reverter a tendência. Aí disseram que o estado mais “perigoso” é sempre Minas, chamado de “Estado Pêndulo”. Vota em massa na mesma direção e pode “pendular” de um lado para outro. Aí achei “coincidência” com as expressões usadas nesse artigo como “Vaivém” e “zigzag”.
Achei excelente a colocação. O que eu vejo nas ruas, na televisão e nos demais espaços, é muita apatia na campanha do Hélio Costa que leva um banho do adversário em todos os sentidos. Tenho muito respeito pelas pessoas de cabeça branca, mas também acredito que as coisas têm o seu tempo, mas aos 71 anos o Helio Costa se mostra anacrônico. Como eleitor e militante de sua campanha espero que haja uma mudança de postura, uma guinada decisiva! Ainda dá tempo.