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(continuação da parte IV)
Parte V
Este artigo pode ser polêmico para algumas pessoas, pois vai contra muitos mitos que nos foram contados sobre a canabis ao longo das décadas, os quais foram instituídos em muitas sociedades do mundo moderno. Falaremos sobre o uso adulto, também chamado de recreativo.
Segundo um ditado é mais fácil enganar as pessoas do que convencê-las de que foram enganadas. Acredito que isso se aplica bastante bem neste caso, onde estamos dando uma nova olhada em uma substância que foi rotulada como perigosa, aditiva e rotulada como porta de entrada para outras drogas.
A camomila e a hortelã têm conhecidas propriedades medicinais quando consumidas como infusão. No entanto, se forem desidratadas, moídas e enroladas em um papel para serem fumadas, podem ter efeitos negativos para a saúde, especialmente nos pulmões e no sistema respiratório. Isso não quer dizer que a camomila e a hortelã sejam ruins para a saúde, mas que essa via de administração tem o risco de prejudicar o sistema respiratório. É o mesmo com a canabis, com a diferença de que, em vez de se diluir em água, se dilui em gorduras ou álcoois. Além disso, devido aos seus efeitos psicoativos, claramente existem riscos adicionais de efeitos colaterais indesejáveis se não for usada com responsabilidade.
Muitas das mentiras criadas a respeito nasceram nos Estados Unidos. Um exemplo icônico é o filme americano de 1936 “Reefer Madness”, onde é narrada a história de vários jovens que acabam ficando meio loucos como consequência do uso de canabis, cometendo uma série de atos criminosos que vão desde a tentativa de estupro até o assassinato. Também são mostradas agressões e suicídios, tudo isso desencadeado pelos efeitos da canabis. Não sei se será necessário dizer, mas nenhum desses comportamentos é típico ou característico dos efeitos de fumar canabis. Esse filme foi parte de uma campanha midiática para a proibição que finalmente foi alcançada um ano depois, em 1937.
Um dos grandes mitos instaurados nessas décadas é que a canabis “mata neurônios”. Parece piada, mas isso está bastante longe da realidade, já que há bastante evidência científica para afirmar que a cannabis tem um efeito neuroprotetor, ou seja, exatamente o oposto de “matar neurônios”. Há pacientes com Alzheimer, Parkinson ou epilepsia que têm resultados maravilhosos com sua terapia de canabinoides, que se mostram eficazes no tratamento da neuroinflamação e do estresse oxidativo.
Se olharmos para a história da música contemporânea, veremos que grandes músicos e bandas fumaram esta planta sem serem particularmente conhecidos por seus comportamentos criminosos, mas sim por sua criatividade e talento. As melhores bandas de rock são ou foram grandes usuárias de canabis. Estou me referindo aos Beatles, Pink Floyd, Rolling Stones, Led Zeppelin, The Doors, Queen, para citar algumas das mais importantes. Bob Marley, Janis Joplin, Bob Dylan, Jimi Hendrix, Louis Armstrong, são outros nomes dentro da longa lista de brilhantes músicos que deixaram importantes marcas na cultura planetária.
Como disse o Pequeno Príncipe, os adultos adoram números: quantos discos venderam?, quantos concertos fizeram?, quantas mansões compraram? Gostaria de formular uma pergunta que não se responde com números. Será que a canabis inspirou esses e muitos outros grandes artistas em muitas de suas brilhantes composições? Não sou ingênuo para pensar que só consumiam esta planta, mas mesmo assim, acredito que seja uma pergunta válida.
Um relatório publicado na revista South African Journal of Science traz uma análise de resíduos encontrados em cachimbos de tabaco desenterrados no centro da Inglaterra, onde foram encontrados vestígios de canabis e nicotina. O relatório mencionava que vários dos cachimbos eram do jardim de William Shakespeare, considerado por muitos o melhor escritor e dramaturgo de todos os tempos. Embora não possamos afirmar com certeza que Shakespeare consumiu canabis, dada sua notória criatividade, não seria nada estranho que ele usasse seus efeitos psicoativos para favorecer seu trabalho artístico.
Até agora, mencionamos apenas nomes de artistas, mas e no caso de um cientista? O que pensará um doutor em astronomia e astrofísica, depois de consumir canabis por vários anos?
Podemos analisar o caso do destacado astrofísico Carl Sagan, já que há mais de 50 anos ele publicou um ensaio com o pseudônimo “Sr. X”, onde narra sua experiência de anos fumando canabis. Descreve sua experiência como positiva, analisando-a sob diferentes ângulos. Ele conclui seu texto afirmando que “a ilegalidade da canabis é escandalosa, um impedimento para o pleno uso de uma droga que ajuda a produzir a tranquilidade, introspecção, sensibilidade e companheirismo que são tão desesperadamente necessários em um mundo cada vez mais louco e perigoso”.
E se mencionarmos o caso de executivos de grandes corporações que admitem usar a canabis para relaxarem de suas vidas estressantes e se inspirarem para tomar grandes decisões? Lembremos o caso do super empreendedor Elon Musk, controlador das gigantes Tesla, SpaceX e Twitter, que após fumar um cigarro de canabis numa entrevista ao vivo na internet viu as ações da Tesla despencarem 8% no dia seguinte. Como resultado da tragada a Nasa conduziu uma “análise do ambiente de trabalho” da SpaceX, para se certificar de que a empresa e seus funcionários “estão seguindo rígidas regras que proíbem prestadores de serviço do governo federal de usar drogas”. Mas segundo o site Politico, quem arcou com a conta foi o contribuinte norte-americano, já que a Nasa pagou à SpaceX US$ 5 milhões para cobrir os custos da análise.
Quando se fala em dependência de canabis, estamos falando principalmente de uma dependência psicológica. A dependência física é bastante discutida. Poderíamos fazer um paralelo com batatas fritas, chocolate e televisão. Não é que seu corpo trema ou sue por parar de assistir televisão, comer chocolate ou batatas fritas, mas muitas pessoas sentirão uma grande necessidade desses alimentos se elas estão acostumadas a isso. É semelhante com a canabis.
A canabis pode causar danos ou pode ter benefícios. Assim como uma faca ou o fogo, o ideal é usar corretamente, se decidir usar. Para isso, é necessário ter informações adequadas para a compreensão do uso adulto, tanto de seus potenciais efeitos positivos, quanto dos riscos para a saúde física e mental das pessoas, sem deixar de lado o que escapa das lentes do microscópio. Estou me referindo a fatores sutis e subjetivos como a inspiração ou experiências místicas, muitas vezes impossíveis de descrever plenamente com palavras ou analisar em estudos científicos.
No próximo artigo, continuaremos falando sobre o uso adulto ou recreativo e refletiremos sobre o conceito de “porta de entrada para outras drogas”.
(continua na parte VI)
Comentários
Meu filho está fazendo uso do óleo e nunca mais precisou de remédios “tarja preta”
É uma droga (também no sentido de medicamento). Assim, há efeitos colaterais, contra-indicações. Como remédio, usar sob prescrição médica. Um criança da minha família usou. Bons resultados, mas com efeitos colaterais. Tal como qq remédio, alivia ou elimina os sinais da patologia, mas não cura.