As palomas e os nomes

Publicado por Lucio Carlos Ferraz 10 de junio de 2020

Minas são muitas,
As “palomas” são mais,
Minas do coronel,
As “palomas” de aluguel.

As palomas não cabem no mundo,
Mundo tanto e singular,
Mas as “rameiras” das Minas,
São das Minas bem gerais.

A “paloma” é uma “hetaira”,
Que se revela singular,
Tanto no seu prazer,
Que é muito desigual,
Quanto na própria dor,
Mais que tudo, visceral.

Neste ofício tão antigo,
Quanto o primeiro castigo,
O pecado já existe,
Transmutado de libido.

Neste desejo obscuro,
Emanado do antanho,
A “dadeira” mais nova,
De malgrado se faz madura,
E acena para o triste,
Que trabalha no escritório.

Nos tempos de outrora,
Se a madame descobria,
O marido com a ”madama”,
O punhal ou a chibata,
Destinados à “piranha”,
Eram a insígnia do ciúme.

Com amor ou desamor,
“Jereba”, “fêmea” ou “loba”,
Rebotalho ou estorvo,
Ela na vida sofre,
Os regalos da “escolha”.

No palco deste mundo,
Onde tudo se confunde,
A “rapariga” trilha,
A trilha da própria sorte
E se profana seu corpo,
O seu caminho é sem volta.

E se esta “decaída”,
Origina uma prole,
Multiplica seu destino,
Nos laços do seu entorno.

“Andorinha” que não voa,
A menina não mais brinca
E no primeiro engano,
Com uma cria como estorvo,
A mocinha bem menina,
Já sem pouso, já sem casa,
vai nos braços do descaso,
Tornar-se “mulher da rua”.

Foi assim com Aspásia,
Originária de Mileto,
Mas também com a humilde,
Mariana do puteiro.

Esquecida na sarjeta,
Essa “quenga” “rameira”,
“vagabunda” e “mundana”,
De destino já traçado,
Será sempre mais uma,
Uma flor suja de lama.

“Messalina”, “ervoeira”,
Ao tornar-se uma prenda,
Abre as pernas e espera:
O rufião da desgraça
Ou o cliente da esquina.

E se atrevida ousa
Insurgir-se nesta vaga,
Vem a lâmina e abrevia,
Sua vida de “perdida”.

Mas se a tudo se sujeita,
E do fel arremata,
Seu arremedo de mel,
Descobre por vezes,
Que do léu será senhora,
Até uma filha do céu.

Neste dia já cansada,
Da fortuna estropiada,
A bala ou a navalha,
Será o prêmio desta lida.

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