Edilene em «Comentário dos leitores – 2ª quinzena Dezembro 2013»
Compartilho esse coemtário e dois artigos sobre os rolezinhos
Entenda o que são os rolezinhos e a repercussão que causaram na internet
DC quer saber a sua opinião sobre a proibição dos eventos criados por adolescentes da periferia
Entenda o que são os rolezinhos e a repercussão que causaram na internet Youtube/Reprodução
Encontros chegaram a reunir 6 mil pessoas no Shopping Metrô Itaquera, em São Paulo
Desde o final da semana passada, quando shopping de São Paulo conseguiu liminar proibindo a entrada de jovens para um rolezinho, não se fala em outra coisa nas redes sociais. Mas você sabe o que é e como surgiu esse movimento?
:: Mural: Você concorda com a proibição dos rolezinhos?
Os rolezinhos são encontros marcados pela internet por adolescentes e começou em dezembro do ano passado. Normalmente os participantes são jovens pobres, a maioria negros, querendo se divertir. No começo, os eventos eram convocados por cantores de funk, em resposta a um projeto de lei que proibia bailes do estilo musical nas ruas da capital paulista.
Incomodados com a multidão de jovens cantando refrões de funk ostentação nos corredores, a direção de seis shoppings paulistanos tiveram o respaldo de decisão judicial para fazer a triagem de clientes. A repressão policial aos participantes também gerou repercussão.
Os eventos continuam a ser promovidos, mas agora por todo o país, como forma de protesto contra o preconceito e segregação social. A capital catarinense tem sua versão marcada para o dia 26, no Shopping Iguatemi, com mais de 300 confirmados até às 10h desta quarta-feira.
Entre os vídeos que fazem sucesso na internet sobre o assunto está a coluna Desce a Letra, de Cauê Moura, com mais de 500 mil visualizações após dois dias de publicação:
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Os Rolezinhos
Final de 2013 — Encontros reúnem centenas de jovens da periferia nos shoppings de São Paulo. Entre os primeiros eventos, estavam atos organizados por cantores de funk em resposta à aprovação de um projeto de lei que proibia bailes nas ruas da capital paulista. Proposta foi vetada pelo prefeito Fernando Haddad neste ano.
Início de dezembro — Comerciantes do Shopping Aricanduva, na Zona Leste, tiveram de baixar as portas durante um tumulto seguido de diversas tentativas de roubo às lojas durante o rolê.
Sete de dezembro — Cerca de 6 mil jovens haviam ocupado o estacionamento do Shopping Metrô Itaquera e foram reprimidos.
Prisões no dia 14 de dezembro — Dezenas entraram no Shopping Internacional de Guarulhos cantando refrões de funk ostentação. Ao todo, 23 foram levados à delegacia.
Precaução excessiva no dia 21 — Polícia foi chamada pela administração do Shopping Campo Limpo e não constatou nenhum tumulto. Policiais permaneceram no local e entraram no shopping com armas de balas de borracha e bombas de gás.
Revistas em 22 de dezembro — Manifestantes foram revistados assim que chegaram ao local e um forte esquema policial foi montado.
Final da semana passada — O shopping JK Iguatemi – um dos mais luxuosos da cidade – conseguiu liminar na Justiça proibindo as manifestações, com previsão de multa de R$ 10 mil a quem fosse identificado causando tumulto. Outros quatro estabelecimentos também conseguiram liminar proibindo o ingresso de manifestantes.
Último sábado — A Polícia Militar de SP usou bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral, além de balas de borracha contra um grupo de aproximadamente mil pessoas que se reuniram para um rolezinho no shopping Itaquera, na zona leste da cidade.
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DIÁRIO CATARINENSE
O rolezinho e o contratinho antissocial
13 segunda-feira jan 2014
Publicado por tarsodemelo em Geral
O rolezinho no shopping é, talvez, um dos atos políticos mais importantes dos últimos tempos no Brasil. Por meio deles, por exemplo, os jovens da periferia já conseguiram obrigar os shoppings a confessarem que a noção de “espaço público” com que concordam está sujeita a severas restrições e, de quebra, têm obrigado também as autoridades públicas a revelarem que tipo de “ordem” estão vocacionadas a proteger.
Muitas das coisas que antes fazíamos nas ruas migraram – e, com elas, nós – para dentro de shoppings. Livrarias, por exemplo, estão cada vez mais guardadas nos shoppings e marcadas pela mesma lógica: imensas lojas de “conveniências” em que os livros são uma parte muitas vezes inexpressiva. Bares e restaurantes estão migrando para os shoppings. Lojas de tudo, a quase todo preço, também se trancaram nos shoppings. Com elas, nós também nos trancamos.
No entanto, se você que estiver lendo este texto tiver as características e os hábitos daqueles para quem os shoppings são feitos (e há uma visível estratificação mesmo entre os públicos consumidores dos diversos shoppings, dos mais “populares” aos “exclusivos”), talvez não tenha ainda se dado conta de que não costuma cruzar, no shopping, com aqueles que fizeram concretamente o shopping (tudo bem, ouça aqui o eco de “tá vendo aquele edifício, moço, fui eu que construí…”), muito menos com aqueles todos contra quem o shopping foi feito.
É disso que se trata: o shopping, ao se apresentar como sendo feito para alguns, é fundamentalmente um lugar contra todos os outros, contra todos aqueles que não se enquadrem nos padrões de aparência e consumo com que o shopping espera contar. Quem corresponde a tais padrões, por sua vez, faz parte da decoração do shopping e alimenta a expectativa de andar pelo shopping cercado por seus “iguais”. É, em suma, um lugar antissocial, por ser a negação consciente da panela de pressão que a cidade é de sua porta para fora, cheia de riscos, variantes, diferenças e toda sorte de coisas incontroláveis.
Numa cidade marcada pela violência, pela desigualdade, pela mendicância, pelo abandono, o shopping se apresenta como uma espécie de bunker. Nosso particular “mundo de Andy”, em que vamos alimentando a ilusão de segurança que tanto gostaríamos que o mundo todo oferecesse. Ou não.
Mas isso tudo dependia de um certo acordo entre os que podem e os que não podem entrar no shopping: “perceba que você não é daqui – nem entre”. E, contra todas as lições da lógica formal, parte gigantesca da sociedade aprendeu a conviver com uma verdade incômoda: a porta está aberta, mas está fechada. O convite para vir está feito, mas não venha!
O que o rolezinho coloca em evidência é que há uma parcela significativa de nossa juventude que não quer fingir que concorda com esse “contratinho antissocial” e está proclamando um “vamos invadir” que ninguém, no silêncio dos shoppings, gostaria de ouvir. Ninguém, ninguém mesmo, nem aquele consumidor – digamos – assemelhado visualmente aos praticantes do rolezinho, ainda mais agora que alguns shoppings estão conseguindo liminares contra os “eventos” e a polícia, com sua habitual sensibilidade, será responsável por identificar quem chega ao shopping como ameaça… Poucos estarão a salvo – e vocês sabem quem.
O medo que boa parte da sociedade revela diante disso, nas conversas que tenho ouvido aqui e ali, é que os shoppings, como únicos lugares em que aquela falsa segurança ainda é oferecida a preços variados, também tranquem suas portas, cobrem “consumação mínima” dos frequentadores, exijam a apresentação de credenciais na entrada, e por aí vai, deixando ainda mais claro quem pode e quem não pode participar do “clube”.
Num shopping aqui de SBC, chamou minha atenção recentemente a presença de uma capela aberta aos frequentadores, bem pertinho dos banheiros. Faz todo sentido o lugar em que ela está, porque provavelmente são os únicos ambientes – a capela e os banheiros – daquele prédio que estão mais ou menos livres da maquininha da Cielo. Será?
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Antonio Ângelo em «Alegria de Pobre «
Como Rubem Braga, Edmeia traz a poesia do cotidiano para a crônica, dando-nos uma nova interpretação a ocorrências até certo ponto banais.
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Berenice Menegale em «Que faria Henry Ford diante dos rolezinhos?»
Os shoppings são programa de fim-de-semana dos adolescentes de classe média faz muito tempo. Sem opções, vítimas da futilidade imperante, eles encontram no shopping o cachorro-quente e a coca-cola,o bate-papo, a turma, os namoricos (o substantivo adequado, da vez, não sei qual é). Tantos eles quanto os da periferia são vítimas também da falta de incentivo por exemplo para os esportes – que poderiam estar fazendo um grande bem à saúde de toda a nossa garotada, da falta de lazer cultural interessante, estimulante e enriquecedor. O que é que a cidade oferta a suas crianças e adolescentes que seja melhor do que o shopping? O shopping não foi feito pra isso, ele é – conforme o chavão – o templo do consumismo, os atrativos estão ali para facilitar as compras, assim como as prestações e, sobretudo, a propaganda. Mas, se a turma é mantida em «estado de divertimento»…sem chatear o papai e a mamãe,por que não? Esta geração de maravilhoso potencial está sendo desperdiçada, mas… quem faz alguma coisa?
Se a turma dos brotinhos (que anacronismo!)»classe-média» estão adorando o programa, por que a atração não iria chamar os da periferia, que sofrem os mesmos apelos? Minha gente, isso que está acontecendo e que pode virar algo feio – já que a intolerância grassa quase incontrolável por aí -poderia despertar (claro que não nas administrações dos shoppings!)uma divulgação das iniciativas boas que existem, sim, para atender aos adolescentes ou criadas por eles mesmos. Não são muitas, claro, pois não têm $$$ para propagar, para ter espaços grandes e confortáveis. Mas, procurem por exemplo conhecer a quantidade de bandas (de rock e outras) que brotam como cogumelos e que ocupam as turmas com algo construtivo e que dá o maior prazer. Lanço um desafio: vamos procurar e divulgar nas redes sociais as propostas legais para a turma? Sem discriminação, sem intolerância. Generosidade e abertura é o que eles mais querem.
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Verly em «Que faria Henry Ford diante dos rolezinhos?»
Puxa, Berenice, receber um comentário seu já é uma subida honra. E mais ainda um comentário que é um texto de analise e proposições que vale a pena ler, refletir e agir. Muito obrigado. Continue sempre com essa mentalidade rara em nossos dias.
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Guilver star em «Que faria Henry Ford diante dos rolezinhos?»
Não tenho a intenção de fazer nenhuma análise sociológica profunda do artigo, nem tenho a habilidade intelectual e a bagagem do autor, no entanto, gostaria de comentar o artigo a partir de minhas experiências como educador popular que trabalhou durante algum tempo com a juventude, de maneira especial com os mais pobres.
Observo a necessidade que os intelectuais têm de decifrar as manifestações populares, de conhecer suas raízes e emitir rapidamente suas opiniões em relação aos fenômenos e fico espantado com as conclusões. Talvez porque muitos deles demonstram não conhecer a realidade periférica e o comportamento da juventude e outros por se esforçarem em batizar os fenômenos sociais com nomes de impacto midiáticos para ganhar espaço. Foi assim como Funk que segundo muitos era uma onda passageira, com apelo sensual e vocacionado ao crime.Quiseram inclusive colocar o funk na mesma bandeira de um movimento politizado como hip hop. Mas não deram conta de perceber que funk representa para os jovens da periferia possibilidade da ascensão e encontro com os pares, que o funk produz a possibilidade de reconhecimento e que a batida tribal da música está em nosso Dna, não estou dizendo que gosto da musicalidade do funk do qual estou falando, prefiro o da Fernanda Abreu, Tim Maia e Ed Mota, mas acredito que Funk é muito mais do que nos apresentam, ele representa um jeito de ser e se organizar, que só foi aceito pela indústria cultural quando descobriram o potencial mercadológico deste fenômeno. Lembro também dos famosos arrastões nas praias cariocas que segundo Hermano Vianna não passavam de brigas de galera que se encontravam nos rolezinhos da época e se enfrentavam e que só passaram a existir como estratégia de roubo depois que a mídia demonizou o fenômeno, porque o morro incomodava a garota de Ipanema.
A periferia assusta o asfalto, ela atrapalha a estética idealizada pelo capitalismo, que vê nos shoppings centers um espaço perfeito para o consumo, sem mendigos, usuários de drogas, pedintes e mau cheiro. Eles foram criados baseados nos templos religiosos que eram espaços de ostentação de riquezas, esteticamente perfeitos e imponentes, ou seja, nestes espaços não cabem os negros, os despojados, os trabalhadores assalariados, não cabe a plebe.
O que os intelectuais parecem não entender, é que não existe reivindicação alguma no embrião dos rolezinhos, eles não são um movimento político orquestrado, podem até vir a ser, são apenas os jovens que superarão a fase da sobrevivência, agora eles conseguem comer e estão querendo mais, aspiram às roupas de marca, os carros e os xavecos. Por que eles andam em bando? Porque sempre andaram, por necessidade de aceitação, para zoar e por segurança. Favelado que anda sozinho corre o risco de amanhecer boiando no Tietê, no Arrudas, na lagoa Rodrigo de Freitas, de ser associado ao tráfico, de sumir de dentro das unidades das UPPs e não mais aparecer.A quantidade de gente impressiona? É amplificação da comunicação, que não pode mais ser controlada por uma ou duas famílias.
O que essa juventude está precisando é de oportunidade para mostrar seus talentos, de gente disposta a dialogar, de presença significativa de quem pode fazer diferença, de espaços de lazer e reconhecimento. E o que eles têm ganhado? Desprezo, portas fechadas, dentadas dos cães e cacetadas, que ainda são amenas devido à proximidade das eleições, afinal na hora de votar eles representam alguma coisa.
Guilver Star
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Job Alves dos Santos em «Que faria Henry Ford diante dos rolezinhos?»
Os rolezinhos levam as pessoas a tirarem as máscaras. A intolerância social é uma realidade. É fácil afirmar-se sem preconceitos desde que cada classe permaneça no devido lugar.
Rico ou pobre, classe alta, média ou baixa, somos todos humanos. Todo ser humano merece respeito, esteja ele no mais baixo grau da escala social ou ocupe o mais alto cargo desta hierarquia. O respeito é ao ser humano que é, não a seu lugar transitório na escala social. Preconceito se combate é com políticas igualitárias. Como está a distribuição de rendas no Brasil? Será que ela poderá ser feita com programas de ajuda a famílias carentes? Isso é balela. Precisamos de política séria de erradicação da miséria através de uma melhor distribuição das riquezas. E isso se faz com geração de empregos com remuneração digna. De que adianta elevar o patamar do salário mínimo se o máximo tem sido elevado muito mais? E estou falando de vencimentos oficiais. No mercado privado a situação é ainda pior. Compare os vencimentos de um executivo de uma industria com os dos operários desta mesma industria? Passe os olhos pela industria do futebol. Por que o cargo de presidente de um clube é tão cobiçado, se, oficialmente, não é remunerado? O que justifica os salários astronômicos de um jogador de futebol? Pergunte a qualquer garoto da periferia o que ele gostaria de ser e não se surpreenda se a maioria das respostas for: jogador de futebol. A propaganda desenfreado cria e alimenta ilusões cada vez maiores em todo mundo, principalmente no jovens. É preciso cair na real. Tanto os mais altos mandatários como cada cidadão.
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Roger em «Que faria Henry Ford diante dos rolezinhos?»
Incrível!
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Ruy em «Que faria Henry Ford diante dos rolezinhos?»
Tanta bobagem que não consegui ler tudo.
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Wesley em «Uma pálida lua»
Mais um belo poema do craque AA, nosso último moicano, emoldurando uma paisagem típica da vida daqueles anos estudantis, belorizontinos, saudosos, que não voltam jamais.
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José Márcio em «Que faria Henry Ford diante dos rolezinhos?»
É impressionante como nós brasileiros, que temos um país de clima agradável insistimos em passear em lugares fechados. Como é difícil irmos a praças, lagoa da Pampulha, parques, etc.
Todos nós gostamos de segurança. E eu tenho ficado impressionado com a maldade do ser humano diante de tantos crimes de motivação absolutamente fútil. Lembro do filme profético «Laranja mecânica». E nós gostamos e precisamos de segurança.
Pra mim o capitalismo triunfou e o acho inerente ao ser humano. Resta saber em qual grau queremos a liberdade individual e a igualdade social.
Tem muitos outros aspectos que precisam ser discutidos no texto, mas não temos tempo para falar tudo.
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Marcos Henrique em «Que faria Henry Ford diante dos rolezinhos?»
Concordo com o que diz o texto.
Contudo, penso que num discurso contra a exclusão o pensamento de um anti-semita fervoroso, financiador no Nacional-Socialismo de Hitler, não seja a melhor referência.
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Francisco Rubió em «Que faria Henry Ford diante dos rolezinhos?»
Entro com a contribuição, com parte de um artigo da edição 3218 de 22/01/14, do jornal Hora do Povo, que complementa o artigo brilhante do Sebastião Verly, sobre os rolezinhos e o pavor (ou terror), espalhado e reproduzido amplamente pela mídia:
O neoliberalismo nos EUA: pobreza, racismo e campos de concentração (1)
A política social do neoliberalismo, tal como levada à prática nos Estados Unidos, é a cadeia para os pobres e/ou negros, como constatam os dados dos sociólogos franceses Pierre Bourdieu e Loïc Wacquant, que destacamos no artigo abaixo
CARLOS LOPES
Em meio a uma pesquisa sobre a situação e o movimento dos negros, um grande amigo, o maestro Marcus Vinícius de Andrade, fez uma sugestão – ao enviar-nos um texto dos sociólogos franceses Pierre Bourdieu e Loïc Wacquant – que resultou num caminho especialmente, ainda que inesperadamente, fértil.
O «inesperadamente» da frase anterior vai por conta do seguinte: não sou um admirador dos acadêmicos franceses, devido a tipos como Deleuze, Derrida – e, claro, Foucault, que já era alucinadamente reacionário muito antes de exibir, em 1979, seu deslumbramento com o neoliberalismo (por falar nisso, eis uma pérola dessa época: «Não se trata de deduzir todo esse conjunto de práticas do que seria a essência do Estado em si mesma e por si mesma. É preciso renunciar a tal análise, primeiro, simplesmente porque a história não é uma ciência dedutiva, segundo, por outra razão mais importante, sem dúvida, e mais grave: é que o Estado não tem essência. (…) O Estado nada mais é que o efeito, o perfil, o recorte móvel de uma perpétua estatização, ou de perpétuas estatizações (…). O Estado não é nada mais que o efeito móvel de um regime de governamentalidades múltiplas.» [M. Foucault, aula de 31/01/1979 no College de France, in «Nascimento da Biopolítica», trad. Eduardo Brandão, Martins Fontes, S. Paulo, 2008, p. 105 e p. 106]).
No entanto, o texto de Bourdieu e Wacquant nada tem a ver com esse estéril rococó mental. O leitor poderá comprová-lo, pois iremos publicá-lo – talvez de forma condensada – em uma de nossas próximas edições.
Só não o fazemos hoje pela necessidade, a nosso ver, de propiciar aos nossos leitores um quadro mais amplo que permita um melhor entendimento das questões abordadas por Bourdieu e Wacquant.
Assim, recorremos ao livro de um deles, Loïc Wacquant, «Punir os Pobres: o governo neoliberal da insegurança social» (por sugestão do próprio autor em seu site, usamos a edição norte-americana – «Punishing the Poor: The Neoliberal Government of Social Insecurity», Duke University Press Books, Durham and London, 2009 – porque Wacquant desautorizou a versão do livro publicada, «contra minha expressa vontade», na França em 2004; existe uma tradução brasileira – aliás, existem duas, ambas publicadas pela Revan).
CHICAGO
Loïc Wacquant é um caso, talvez, raro. Em uma entrevista, conta ele como, depois de obter «uma bolsa de quatro anos para meu doutorado na Universidade de Chicago (…) ao chegar à cidade de Upton Sinclair (…) vi-me confrontado com o quotidiano da realidade do gueto de Chicago. Habitava nas imediações do bairro negro e pobre de Woodlawn e era um choque terrível ter sob a minha janela aquela paisagem urbana quase lunar, inverossímil de ruína, de miséria, de violência, com uma separação totalmente hermética entre o mundo branco, próspero e privilegiado da universidade e os bairros negros ao abandono em volta (o campus de Hyde Park está rodeado em três lados pelo gueto de South Side e, no quarto, pelo lago Michigan). Isso questionava-me profundamente no dia a dia» – v. Etnográfica vol. 12 (2) (2008), entrevista à Susana Durão.
Na procura por compreender o que acontecera na história dos negros norte-americanos após o movimento de direitos civis na década de 60, Wacquant, inevitavelmente, confrontou-se com «a expansão espantosa do Estado penal ao longo dos três últimos decênios do século. Entre 1975 e 2000, os Estados Unidos multiplicaram por cinco a sua população sob registro prisional para se tornarem o líder mundial da encarceração, com 2 milhões de detidos – coisa que eu ignorava então (…) como todos os sociólogos que trabalhavam com raça e classe na América.
«Como se explica esta hiperinflação carcerária? A primeira resposta, a da ideologia dominante e da investigação oficial, é dizer que ela está ligada ao crime. Mas a curva da criminalidade estagnou, entre 1973 e 1993, antes de cair fortemente, no preciso momento em que o aprisionamento levantava voo.
«Segundo mistério: enquanto a proporção de negros em cada ‘coorte’ de criminosos foi diminuindo durante vinte anos, a sua parte na população carcerária não cessou de aumentar. Para resolver estes dois enigmas, é necessário (…) repensar a prisão como uma instituição política, uma componente central do Estado. Descobre-se então que o surgimento do Estado penal é o resultado de uma política de penalização da miséria, que responde ao crescimento da insegurança salarial e ao afundamento do gueto como mecanismo de controle de uma população duplamente marginalizada, no duplo plano material e simbólico.
Nesse momento, aconteceu algo que foi crucial para ele, do ponto de vista político: «Clinton avalizava a ‘welfare reform’ de 1996, elaborada pela facção mais reacionária do Partido Republicano. A abolição do direito à assistência social para as mulheres sem recursos e a sua substituição pela obrigação ao assalariamento forçado (dito worfare) é um escândalo histórico, em todo o século XX, a medida mais regressiva tomada por um presidente que era suposto ser progressista. Por indignação política, escrevi um artigo no Le Monde Diplomatique, depois um artigo mais aprofundado para uma revista de geografia política, a revista Hérodote. (…) a atrofia organizada do setor social e a hipertrofia do setor penal do Estado americano eram não somente concomitantes e complementares, mas visavam a mesma população, estigmatizada à margem do salariato. Tornava-se claro que a ‘mão invisível’ do mercado desregulado apela para e necessita do reforço do ‘punho de ferro’ da Justiça criminal»
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Sérgio Mudado em «Uma pálida lua»
Belo Horizonte aos olhos do poeta – que o Tempo (diferentemente da cidade) soube amadurecer: uma vez, ontem. E hoje, nunca mais…
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Concessa Vaz em «Que faria Henry Ford diante dos rolezinhos?»
«Em Trautenau há dois cemitérios na igreja,
Um para os ricos e outro para os pobres;
Nem mesmo na sepultura
É o pobre desgraçado seu igual».
Poema in Trautenau Wochenblatt,1869.
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Monica em «Limpeza Urbana em Belo Horizonte – parte 6»
Boa tarde,
Preciso vender alumínio em pouca quantidade em torno de 20kg/mês, mas os locais de Belo Horizonte que consegui o contato não recolhem esta quantidade de material.
Preciso de locais que podem receber este material e que comprovem que o receberam.
Também preciso dispensar em torno de 2kg/mês de polietileno (em tiras).
Agradeço desde já.
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Patricia em «Homens Perigosos»
Passei exatamente por isso agora pouco. Encontrei um príncipe, doce, mimoso. Fui morar com ele logo na primeira semana. Depois que levei todas as minhas coisas pra casa dele ele começou a ser estúpido, violento. Eu não podia olhar pra qualquer lado que ele logo que acusava de estar olhando pra algum homem. Vigiava meu celular. Não queria que eu tivesse o contato de ninguém, nem de amigas na memória do celular, pois dizia que era outra pessoa que eu colocava nome de mulher. Passei uma noite de terror com ele dentro do quarto, me acusando de infidelidade, pois eu havia ficado duas horas na casa da minha mãe e de noite na hora de fazer havia uma secreção na calcinha, que é normal, acontece com toda mulher, e ele me estrangulou a noite toda gritando comigo, torcendo meus braços, meus dedos, dizendo que eu havia traído ele com alguém na casa da minha mãe. Depois se arrependia e chorava e me estrangulava de novo e gritava pra eu dizer que o amava enquanto ele me estrangulava. Passei esse inferno algumas noites, até que em uma oportunidade em que ele teve que sair eu peguei minhas coisas e levei tudo pra casa da minha mãe, fui embora. Ele me procurou, voltei pra casa dele, mas não levei nada das minhas coisas, pra ele não se prevalecer. Ontem, tivemos uma briga por que eu não quis transar, e vim pra casa e terminamos. Fiquei com pena dele, pois a vida dele nunca foi fácil, ele sofreu muito, a mãe dele hoje em dia é uma boa mãe, pois se converteu, mas não era no passado. Enfim, eu tenho pena dele. Porém lendo essa matéria me deu mais força pra não voltar pra ele. Quando fui morar com ele, ele quebrou o braço de propósito só pra ficar de licença da empresa e ficar o tempo todo comigo. Cuidei dele como se fosse um bebê mesmo estando exausta, por pena. Quero o bem dele, acredito que todas as pessoas mudam, mas não quero perecer esperando pela mudança dele.
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Patricia em «Homens Perigosos»
Coloquei esse site nos meus favoritos, pra ler toda vez que eu fraquejar, pra me dar força e não me iludir mais. Achei este artigo de uma enorme importância e apoio á todas as mulheres que passam pelo mesmo problema. Temos medo de contar, vergonha de amar um homem que nos maltrata e por isso não contamos o que acontece conosco para nossas famílias. E aí é que está o erro. Estamos ajudando nosso opressor quando escondemos tudo. E nos ajuda muito saber que existe um perfil de homem repressor, ciumento, agressivo, manipulador, enfim, espelho dessa situação colocada no artigo. Então não estamos sozinhas. Eu queria saber se algum homem deste perfil se arrepende e muda para sempre, pois como os amamos é difícil abandonar, sempre queremos curá-los desse ciúme doentio. Mas pesquiso e pesquiso e não sei de um caso de cura, como se o destino desses homens seja sempre esse, fazer uma mulher infeliz. Como se fosse um distúrbio tipo um psicopata! Eu queria saber o que acontece com esses homens que tem essa necessidade de realmente possuir, dominar.
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Robespierre em «Uma pálida lua»
Excelente.
Grande poeta e amigo.
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valeria em «Homens Perigosos»
Nossa me vi nesse texto, tenho 5 meses de casada e to numa humilhaçao, numa proibiçao de ir na casa dos meus pais. Engravidei mas foi uma gravidez na trompa com 1 mes depois casei parece que to vivendo um pesadelo. Ele me chinga quando olha os contatos no meu face. Tenho que tomar uma atitude a ultima agora que ele fez foi me intimidar na moto corria passava nos quebra mola com toda velocidade. Eu comecei a gritar ae ele parou com medo de ser preso, isso porque era pra ele me buscar e perguntei onde ele tava. Fui de onibus pra casa resolvi ficar mas isso ta me doendo tanto e ainda tenho pena.
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