Taramelas!

Publicado por ELIS CALDEIRA 19 de janeiro de 2022

Ao leitor, acostumado a Alexas e Inteligências artificiais de toda espécie, talvez esta crônica não faça muito sentido, ou nenhum. Ainda assim, ousarei abordar um assunto “dos antigamentes”, a taramela, mineiramente reduzida a tramela, assim ficou.

Pois bem. Voltemos nosso olhar à minha terra natal, a bucólica Itacambira, que, na sua altitude de 1000 metros, parece, em partes, manter os ares de outrora, na ingenuidade, ou na simplicidade característica das cidades interioranas.

Lembro-me, com generosa memória, das tramelas que se usava nas portas e janelas das casas àquela época. Aquele pedaço curto de madeira, geralmente preso a um prego, que pendendo de um lado ou do outro, trancava a porta. Elas, de tão desgastadas pelo cuidado diário do abrir e fechar, ganhavam a ideia de envernizadas, de tão lisas que ficavam. Junto às tramelas, outro sistema de segurança de uso comum naquela época, eram as travancas, um reforço usado nas portas de entrada das casas. Era um pedaço vistoso de madeira que, de um lado a outro, respaldado por encaixes, servia como uma espécie de barricada. Lembro-me da sensação de segurança causada pela travanca. ” Aqui, ninguém entra”. Amém.

Em minha última visita a Itacambira, deparei-me com tramelas e travancas na casa dos meus tios lá ao pé da serra, na comunidade da Limeira. Aquela pequena visão suscitou em mim vertidas lágrimas, uma saudade contundente do meu pai, da minha infância, das tramelas de portas que nunca mais se abririam. Hoje, tramelas e travancas só abrem memórias e fecham lembranças, coisas da infância.

Comentários
  • Antonio Angelo 1068 dias atrás

    Modestas tramelas que nos davam segurança àquela época…
    Frágeis, mas o suficiente para que pudéssemos dormir em sono solto!
    Ficam na lembrança. Símbolo de um tempo
    Agora, haja chave, tetrachave e sistemas de câmaras.
    A insegurança grassa.

    Boa lembrança, Elis!

    • Elis Caldeira 1067 dias atrás

      Grata, Angelo! Tornamo-nos reféns de nossos próprios monstros: medo do assalto, do inusitado, do imprevisível
      Medo do medo.No tempo das tramelas, o medo mais voraz era somente de assombração..rs
      Um bom abraço!

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