Solenemente só

Publicado por Editor 26 de outubro de 2012

Já não resta viv’alma

Já não há testemunhas

Restei só, porém solene

De olhos mareados e pedras nos sapatos

Ouvindo o bater surdo do relógio

E o cair do orvalho lá fora

Pensando cá com meus botões

Que diabos estou fazendo aqui?

Só, neste salão arrumado

Aguardando algo que jamais virá

Apago o cigarro e pego o chapéu para ir embora

Mas eu bem sei que não vou

Eu nunca vou

Foram-se todos e eu fiquei aqui

Queria ser como todos e poder ir pra casa

Queria que fosse simples como um beijo de boa noite

Mas o mundo me dói

O noticiário me aniquila

A novela das oito me corrói

E tudo que construí

À Borges, Neruda e Kafka

Cai por terra e me leva junto

E de repente todo o mundo

È estranho e assustador

Quisera não compreender

Quisera me desprender

E fazer da novela das oito

Minha verdade universal

Mas não aprendi a desaprender

A me desapegar do que pudera ser

A ser menos não-igual

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