para todos falo
para todos os lugares
todos os tempos
de alegria ou de sombras
falo de palavra livre
de vento no deserto
palavras de águas amazônicas
de aves sem pouso
cidades remotas
animais em extinção
assim são minhas palavras em ruínas
desmedidas e musicais
de pedra em repouso
mesmo quando as montanhas
de abusos e absurdos
se desabam em nuvens
de silêncio e de terror
e as geleiras se derreterem
contra a ignorância
a ira e a arrogância
dos homens sem pares
falo de fala amável e necessária
do que me é dado ver e sentir
do que me é dado sofrer e sorrir
falo do que de humano existe
em todos os homens
de todos os tempos e lugares
para que a vida se cumpra
e floresça em sua plenitude
no coração da humanidade
quem tem ouvidos que ouça
o poema da alegria
da dor da arte universal
de minha parte esqueço o som vazio
a sinfonia de minha própria boca