De minha poesia que é parca
Devo valentia aberta a faca
A Manoel de Barros e atoleiros
Que me ensinou a ser oleiro
De palavras naturais
De encontros casuais
De cheiros e texturas
E de sombras e amarguras
Fundir novos vocabulários
Novas contas ao escapulário
Da língua portuguesa
E muito preso a certeza
De que os verbetes portugueses
Acham-se gastos de alfinetes
Precisando de reforma estrutural
Transformando seu gene cultural
E libertando-os para serem livres
De pres e pós concepções incabíveis
Que afirmam que poesia
Não se come, se anuncia
Não se bebe, se escreve
E que a vida se inscreve
Sob forma juramentada
Nunca ouvi maior patada
Idéia mais sem sentido
Afirmar mais descabido
Que palavra foi criada
Pra ser coisa mal tratada
De boca em boca apertada
Sem ter sido nunca pensada
Pela voz de uma criança.