A desvantagem no mundo dos feiticeiros é a falta de familiaridade com esse mundo. Nele é preciso relacionar-se a tudo de uma maneira nova, o que é muito mais infinitamente difícil, porque tem pouco a ver com a continuidade da vida cotidiana.
Nenhum de nós resolve coisa alguma. O espírito ou o resolve por nós ou não o faz. Se o faz, o feiticeiro encontra-se agindo no mundo dos feiticeiros, mas sem saber como. Esta é a razão pela qual tenho insistido que a impecabilidade é tudo o que conta. Um feiticeiro vive uma vida impecável, e isto parece atrair a solução. Por que? Ninguém sabe.
Impecabilidade não é moralidade. Apenas se parece à moralidade. A impecabilidade é simplesmente o melhor uso de nosso nível de energia. Claro que existe frugalidade, simplicidade, inocência, e, acima de tudo, exige falta de auto-reflexão. Tudo isso a faz soar como um manual de vida monástica, mas não é.
Segundo os feiticeiros, para comandar o espírito, ou seja, comandar o movimento do ponto de aglutinação, o indivíduo necessita de energia. A única coisa que armazena energia para nós é nossa impecabilidade.
A maximização do movimento do ponto de aglutinação pode ser conseguida com a inibição da auto-reflexão. Mover o ponto de aglutinação ou quebrar a continuidade de um indivíduo não é a dificuldade real. O difícil é concentrar energia. Se o indivíduo tem energia, uma vez que o ponto de aglutinação se move, coisas inconcebíveis estão ali, bastando pedi-las.
A situação do homem é que ele intui seus recursos ocultos, mas não ousa usá-los. É por isso que os feiticeiros dizem que a luta do homem é o contraponto entre sua estupidez e sua ignorância. O homem necessita agora, mais do que nunca, que lhe ensinem novas idéias que tenham a ver exclusivamente com seu mundo interior – idéias de feiticeiros, idéias pertinentes ao homem encarando o desconhecido, encarando sua morte pessoal. Agora, mais do que qualquer outra coisa, ele necessita aprender os segredos do ponto de aglutinação.
A posição do conhecimento silencioso é considerado o terceiro ponto porque para chegar a ele é preciso passar pelo segundo, o lugar da não-piedade. O ponto de aglutinação adquire suficiente fluidez para que se duplique, o que lhe permite estar tanto no lugar do conhecimento silencioso quanto no da razão, seja alternadamente ou ao mesmo tempo.
Cada ser humano tem uma capacidade para essa fluidez. Para a maioria de nós, entretanto, está guardada e nunca a usamos, exceto nas raras ocasiões provocadas pelos feiticeiros.
A humanidade se encontra no primeiro ponto, a razão, mas nem todo ponto de aglutinação dos seres humanos fica exatamente na posição da razão. Aqueles que estão exatamente em seu próprio ponto são os verdadeiros líderes da humanidade. Na maior parte do tempo, pessoas desconhecidas cujo gênio é exercitar sua razão.
Houve uma época em que a humanidade esteve no terceiro ponto, o qual, naturalmente, fora o primeiro ponto na época. Mas, depois disso, a humanidade moveu-se para o lugar da razão.
Quando o conhecimento silencioso era o primeiro ponto, a mesma condição prevalecia. Nem todos os pontos de aglutinação dos seres humanos também estavam exatamente naquela posição. Isso significava que os verdadeiros líderes da humanidade sempre foram aqueles poucos humanos cujos pontos de aglutinação estavam ou no ponto exato da razão ou no do conhecimento silencioso. O resto da humanidade era meramente a audiência. Em nossa época são os amantes da razão. No passado foram os amantes do conhecimento silencioso, que admiraram e cantaram odes aos heróis de qualquer das outras posições.
A humanidade passou a parte mais longa de sua história na posição do conhecimento silencioso, e isso explica nosso grande anseio por ele. Apenas um ser humano que seja um modelo da razão pode mover seu ponto de aglutinação com facilidade e ser um modelo do conhecimento silencioso. Apenas aqueles que estão exatamente em qualquer das posições podem ver a outra posição com clareza, e esta foi a maneira pela qual a idade da razão veio a existir. A posição da razão é vista claramente da posição do conhecimento silencioso.
A ponte de mão única do conhecimento silencioso para a razão é chamada referência. Isto é, a referência que os verdadeiros homens do conhecimento silencioso têm acerca da fonte do que conhecem. E a outra ponte de mão única, da razão para o conhecimento silencioso, é chamada entendimento puro. Isto é, o reconhecimento que revelou ao homem da razão que a razão é apenas uma ilha num mar infinito de ilhas.
Um ser humano que tenha as duas pontes de mão única funcionando é um feiticeiro em contato direto com o espírito, a força vital que faz ambas as posições possíveis.