Nelson Rodrigues – Frases 5 – As virtudes, nostalgia

Publicado por Editor 20 de dezembro de 2019

As virtudes

Convém não facilitar com os bons, convém não provocar os puros. Há no ser humano, e ainda nos melhores, uma série de ferocidades adormecidas. O importante é não acordá-las.

Sou um pobre nato e, repito, um pobre vocacional. Ainda hoje o luxo, a ostentação, a jóia, me confundem e me ofendem.

O homem não nasceu para ser grande. Um mínimo de grandeza já o desumaniza. Por exemplo: um ministro. Não é nada, dirão. Mas o fato de ser ministro já o empalha. É como se ele tivesse algodão por dentro, e não entranhas vivas.

Nada nos humilha mais do que a coragem alheia.

Não acredito em honestidade sem acidez, sem dieta e sem úlcera.

Hoje é muito difícil não ser canalha. Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo.

Toda autocrítica tem a imodéstia de um necrológio redigido pelo próprio defunto.

Os heróis morrem em combate. Não dá tempo ao destino de flagrá-los na cama ou na cadeira de balanço!

Perfeição é coisa de menininha, tocadora de piano.

Só acredito nas pessoas que ainda se ruborizam.

Os defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos…

Todo ginecologista devia ser casto. O ginecologista devia andar com batina, sandálias e coroinha na cabeça. Como um São Francisco de Assis, com luva de borracha e um passarinho em cada ombro.

Nostalgia

Na vida, o importante é fracassar.

Meu Deus, por que existem tantos olhos no mundo?

Nunca a mulher foi menos amada do que em nossos dias.

Quero crer que certas épocas são doentes mentais. Por exemplo, a nossa.

Em nosso século, o “grande homem” pode ser ao mesmo tempo, uma besta!

O grande acontecimento do século foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota.

Em 1911 ninguém bebia um copo d´água sem paixão.

A televisão matou a janela.

Acho a velocidade um prazer de cretinos. Ainda conservo o deleite dos bondes que não chegam nunca.

Comentários
  • Antonio Angelo 1768 dias atrás

    Nelson nos mostra o quanto é risível e vã a nossa filosofia!
    E desmascara qualquer narcisismo.
    Viva Rodrigues, portanto!

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