Nunca me perguntei
porque a desgraça se abateu assim sobre mim
Aceitei meu fardo
E o carrego conformado
Enquanto prossigo o caminho sem fim
Trago comigo a marca da raça
Que expulsa do paraíso
Se esqueceu de esquecer
E por isso tenta inutilmente
Recriar o que sonhos dementes
Insistem em relembrar
Pintei, esculpi, ensaiei, bailei
Ainda que não tenha usado nada
Além de palavras tolas e desculpas descabidas
Recriei com minha caneta
Obras primas das artes plásticas ou naturais
E estas foram perfeitas e eternas
Até que olhos humanos as tivessem visto
Então a serpente da auto-crítica
Me cravou as presas longínquas
E levou até meu cerne
Dúvidas que qual um verme
Apodreceram minha confiança
Me rebelei contra minha entranhas
E cada luta me matava
Mas minha sentença ditava
Que jamais sofreria a estranha
Morte que a todos aguarda
E juntando água as cinzas
Da ultima obra urdida
Fiz tinta qual veneno de sobra
E mais uma vez destemida
Minha caneta correu qual rastro de cobra.