Só depois pudemos perceber na fotografia
como algo do ocaso nela se infiltrara
e como havia marcas dela no ocaso.
Um pouco da cor dos olhos
tingindo a fímbria das nuvens,
um pássaro na curva do ombro,
a nesga do vestido azulado flutuando ao vento
dobrada sobre o horizonte.
Àquele tempo transcendia a sua condição humana
e no sorriso – entre os dentes –
entrevia-se límpida água de mina.
Não discernimos na foto onde findavam os cabelos
e onde noite já se fizera.
Atrás da escápula direita,
fugaz brilho de lua nascente.
Ocorre-nos agora perguntar
por que tardiamente percebemos estes sinais
vendo o antigo retrato sobre o móvel
em meio ao alarido das cigarras que inunda a sala.