O Real e o Imaginário
“Tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto”.
“A gente vive repetido, o repetido, e, escorregável, num minuto, já está empurrado noutro galho. Acertasse eu com o que depois sabendo fiquei, para de lá de tantos assombros… Um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala. Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.”
“O jagunço Riobaldo. Fui eu? Fui e não fui. Não fui! – porque não sou, não quero ser”.
“Eu careço de que o bom seja bom e o rúim rúim, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza! Quero os todos pastos demarcados… Como é que posso com este mundo? A vida é ingrata no macio de si, mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero. Ao que, este mundo é muito misturado…”
“O senhor ache e não ache. Tudo é e não é …”
A Vida e a Morte
“A vida da gente vai em erros, como um relato sem pés nem cabeça, por falta de sisudez e alegria. Vida devia de ser como sala do teatro, cada um inteiro fazendo com forte gosto seu papel, desempenho”.
“Viver é um descuido prosseguido”.
“Viver – não é? – é muito perigoso. Por que ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo.”
“Viver é muito perigoso: sempre acaba em morte”.
“A gente morre é para provar que viveu”.
“A morte é para os que morrem”.
“Um dia ainda entra em desuso matar gente”.
“Quem atravessa três rios grandes perde o seu bem querer.”
“Assaz o senhor sabe, a gente quer passar um rio a nado, e passa, mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais embaixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?”.