A Editora da Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF, em co-edição com a Fundação Astrogildo Pereira, entidade formuladora de doutrina ligada ao Partido Popular Socialista, PPS, lançou no dia 1º de julho último o livro “Era outra História – Política Social do Governo Itamar Franco – 1992-1994”, de autoria de Denise Paiva. O lançamento ocorreu no dia 1º de julho, quarta feira, às 19h, no Museu de Arte Murilo Mendes, ligado àquela universidade, em Juiz de Fora – MG.
Denise Paiva nasceu em Juiz de Fora, e se graduou em Serviço Social na PUC-MG em Belo Horizonte. Foi assessora de assuntos sociais da presidência da república durante o governo Itamar Franco, e nesta obra busca um resgate da história recente do Brasil sob a ótica das políticas sociais, com a visão de quem teve um papel fundamental em sua concepção e formulação.
O livro mostra como o governo Itamar Franco inaugurou um novo contexto da política social, dando vez e voz à sociedade civil e fortalecendo a governabilidade em um período delicado, no qual havia se retomado recentemente à democracia, e em seguida a um governo que terminou com o impeachment do presidente.
De acordo com a autora, o livro procura resgatar uma importante etapa da história brasileira que os meios acadêmicos e políticos relegaram ao limbo. “É um momento sobre o qual o país precisa se debruçar e estudar melhor”. Sem dúvida, depois da década de 80, que ficou conhecida como “década perdida”, para superar os traumas do regime de força e das desilusões dos primeiros governos civis, era preciso refazer o tecido social, reconstruindo uma convivência sem o uso da coerção do aparato estatal e consolidando a credibilidade das instituições democráticas.
A trama desse tecido teve seu início no governo Itamar sob a inspiração do presidente, que convidou todos os movimentos sociais organizados e partidos políticos que os representavam a apresentarem sua contribuição. A autora, que acompanha o presidente Itamar desde a prefeitura de Juiz de Fora em 1973, e que teve importante passagem pela prefeitura de São Paulo, onde na gestão Luíza Erundina coordenou a participação popular nas decisões e fiscalização da gestão, foi a regente que conduziu essa tessitura. Além da própria Erundina, levou para dentro do governo cabeças como Betinho, Dom Mauro Moreli, figuras respeitadas no meio acadêmico, além de facilitar a interlocução com os partidos que se diziam à esquerda do presidente Itamar.
“A política social colocada em prática naquela época deu base inclusive para se implantar um plano econômico vitorioso, como o Plano Real”. Não por acaso a data escolhida para o lançamento coincide com o aniversário de 15 anos do Plano Real, que foi gestado sobre a presidência de Itamar.
Denise explica que sua idéia de contar esta “outra história” surgiu de uma responsabilidade ética e cívica de se compartilhar um momento tão importante para o país, até hoje pouco analisado e do qual teve o privilégio de participar. A autora reaviva o momento de forma compartilhada, trazendo, para contar a história, outras pessoas que participaram do governo Itamar Franco, nas mais diversas áreas. Para desenvolver a presente obra, a autora dedicou dois anos a um intenso trabalho de pesquisa, entrevistas e análise de documentos da época.
Denise conta que realizou a primeira entrevista para o livro no dia 7 de junho de 2007, com Plínio de Arruda Sampaio. “Dessa entrevista saí com a certeza de que tinha a história e o roteiro na mão”. Denise ressalta que o livro mostra as contradições desse momento político: “Todo processo político é contraditório e eu procurei me debruçar também sobre estas contradições”.
A obra tem uma linguagem fluente e acessível, além de transpirar emoção. As entrevistas são registradas no livro em forma de diálogo, o que contribui para uma maior aproximação entre leitores e personagens. A escolha desta linguagem é uma forma de aproximar a obra dos jovens. O livro é de importância para todos que se interessam pela História do Brasil, bem como estudiosos de áreas específicas como comunicação, serviço social, administração, política, direito e ciências sociais, por descrever todo um sistema de governo que empreendeu esforços em todas essas áreas para alcançar um bem comum.
Comentários
Conheci Denise Paiva em Brasília. Eu era uma agente de policia civil, e andava com o esqueleto do projeto “esporte à meia-noite” debaixo do braço, tentando convencer autoridades que prevenção, em segurança pública, deveria ter peso maior ou igual a repressão. Denise foi minha guru, minha guia e apoio nas horas em que pensei em desistir. Fico feliz em saber que ela continua construindo reais histórias. Ela faz parte da minha e agradeço sempre por isso. Sucesso e Saudades.
Satisfação ler o comentário da Vera. Perguntei a minha mãe: Ela conhece a sua história? De Brasília à Ilhéus, do silêncio ao grito rasgado, vamos mostrar ao Brasil sua real história! Obrigada a todos.
É ELISA, só quem viveu a época.
A gênese!
Hoje é bolsa d…..de tudo que é jeito.
Como bem escreveu sua mãe: A HISTORIA É OUTRA!!!
Quem viver,verá! E….saberá porque ainda o BRASIL esta de pé.
Até quando??
Será que após as eleições de 2014 ,seremos o mesmo?
Muito importante a autora mostrar nos seus artigos que projetos piloto nunca deixam de ser pilotos. E suas iniciativas em Brasília foram no sentido de criar programas de políticas públicas com a intenção de universalizá-los, ao invés de criar vitrines, como sempre aconteceu na área social no Brasil. A moda é criar uma ONG, montar uma vitrine, enchê-la de pobres e ganhar dinheiro com a pobreza, aproveitando o sentimento de culpa que todo ser humano tem. Parabéns à Denise por ter feito diferente. Tudo o que há hoje na área social de consistente e em condições de ser considerado política de estado foi inciado na época em que a autora estava no comando da área social em Brasília junto com Betinho, Dom Mauro Moreli, Cristóvão Buarque e outros. E me lembro que havia alguns burocratas no governo Itamar que diziam que a Área Social era um verdadeiro hospício.
Parabéns pela teimosia, o Brasil se beneficiou muito de suas loucuras!
Vera, você não imagina a luta!!!
Importante que “Era outra história” provoque, instigue o contraditório, faça avançar a critica e o debate democrático que é a nossa verdadeira vocação e responsabilidade. Denise Paiva.
Sobre a paternidade do REal gostaria de acrescentar para os leitores desse site um artigo muito oportuno do Blog do Kotscho:
http://colunistas.ig.com.br/ricardokotscho/2009/06/
Em Bom Jesus da Lapa, o Real que virou a eleição
30/06/2009 – 20:16 – Ricardo Kotscho
Navegávamos pelo São Francisco quando a nova moeda foi lançada na praça. Fui apresentado a ela ao comprar cigarros em Bom Jesus da Lapa (…).
Os fregueses do bar estavam entusiasmados:”Quando eu poderia pensar que iria tomar uma pinga por vinte centavos sabendo que amanhã o preço não vai aumentar?”, ouvi de um deles.
Ao voltarmos para o barco, mostrei a cédula a Lula. “Isto aqui pode mudar a história da eleição”, alertei, mas ele não deu muita importância à opinião do assessor.
A história contando como a campanha do então candidato Lula, em 1994, foi atropelada pelo lançamento do Real, quando a Caravana da Cidadania cruzava o rio São Francisco, está contada no meu livro “Do Golpe ao Planalto – Uma vida de repórter” (páginas 201 e 202).
Nada como ter o próprio livro de memórias à mão para lembrar detalhes de fatos passados 15 anos atrás. Faz bastante tempo, mas é possível que ainda tenha gente tomando pinga por vinte centavos em Bom Jesus da Lapa _ maior prova de que o Plano Real veio para ficar e deu certo.
Nos parágrafos seguintes, mais uma vez recorro ao livro para contar como o lançamento do Real virou de cabeça para baixo, em poucos dias, a campanha presidencial de 1994, quando eu trabalhava como assessor de imprensa do candidato do PT.
O cenário da campanha, a qual até esse ponto da história se assemelhara a um passeio, sofreria uma transformação radical antes de partirmos, no dia 4 de julho, para a sétima e última caravana.
Feliz com o resultado das caravanas anteriores, o candidato teve a idéia de fazer uma viagem de barco da nascente até a foz do rio São Francisco, parando nas cidades ribeirinhas.
O ministro das Relações Exteriores de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, que havia sido transferido para a Fazenda _ muito a contragosto, segundo ele próprio _ acabara de implantar a URV (Unidade Real de Valor).
Era o primeiro passo para o lançamento de uma nova moeda, o real, que tinha por objetivo principal controlar a inflação, sem tabelamento de preços, e estabilizar a economia.
Recebido com descrédito pelos economistas do PT, o Plano Real revelou-se um sucesso fulminante, a ponto de, em poucas semanas, levar Fernando Henrique a subir nas pesquisas, ao mesmo tempo que Lula descia.
Alguns meses antes, com dúvidas sobre suas chances de se eleger para um novo mandato no Senado, o tucano pensara em se candidatar a deputado federal.
A disputa pela Presidência se limitava aos dois, que tinham uma boa relação pessoal desde os tempos das lutas no ABC. Para Lula, parecia incômodo enfrentar um oponente para quem até havia feito campanha _ nas eleições para o Senado, em 1978.
Quando retornamos da viagem de apenas nove dias pelo São Francisco, o quadro eleitoral já havia virado.
Num encontro de economistas com o candidato, promovido no hotel Danúbio, em São Paulo, todos criticaram o Plano Real, taxado de “recessivo e eleitoreiro” pela professora Maria da Conceição Tavares.
Acho que só eu discordei dessa análise, e comentei com Lula ao final da reunião: “Olha, eu não entendo nada de economia, mas o plano não pode ser eleitoreiro e recessivo ao mesmo tempo. Ou é uma coisa ou é outra, que ninguém vai ser louco de implantar um plano econômico para provocar a recessão na economia se pretende ganhar a eleição”.
Para Aloizio Mercadante, o Plano Real não duraria nem três meses. “Tudo bem, mas, se durar três meses, nós perdemos as eleições em outubro”, ainda tentei argumentar. Nossos discursos, porém, continuaram na mesma linha de ataques ao plano que o povo estava adorando.
Oito anos depois, Lula seria eleito presidente da República, disputando a eleição contra José Serra, ex-ministro de FHC, que também era crítico da política econômica do governo.
A estabilidade da moeda sobrevive até hoje. Ainda dá para comprar um quilo de frango por dois reais e planejar as nossas contas sem levar um susto atrás do outro como era antigamente. De lá para cá, o país só fez melhorar.
Enviado por: Ricardo Kotscho – Categoria(s): Blog
João Roberto, o REAL esta se despedindo. Inflação está de volta.
Pois e,ne?
como ele dizia:ELE era bobo!!!UAI!!!
Cade os sabichoes??????????
Estava respondendo a Vera Marques e Augusto Cesar. Outro comentario:luta que tivemos contra a resistencia conservadora.