No começo era o verbo
E este era livre de prés e pós conceitos
Era único e era só
Bastava-se em si mesmo
Era autoconfiante e sincero
Então
Surgiu o poeta
Se infiltrando qual serpente venenosa
E se pôs a conjugar o verbo
E o fechou em um labirinto de mesóclises
E sujeitos ocultos
Destruiu sua paz serena
E o fez auto-piedoso,
Auto-comiserado, autocrítico
Roubou sua sinceridade
E o fez cínico, sarcástico
Converteu paz em silêncio
E silêncio em opressão
E não seremos perdoados
Enquanto não queimarmos o poeta
E devolvermos suas cinzas ao pó
Ao verbo inconjugável do existir