Chile: Identificados os torturadores e assassinos de Victor Jara

Publicado por Editor 1 de junho de 2009

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Segundo o Centro de Investigación e Información Periodística – CIPER, de Santiago do Chile, trinta e seis anos depois da morte do famoso cantor Víctor Jara, a investigação judicial chegou a um ponto que muitos consideravam impossível: identificar cada um dos oficiais e soldados que perpetraram o assassinato precedido de cenas de sadismo e atrocidades.

Em meados do ano passado o juiz Juan Eduardo Fuentes declarou encerrado o processo com um único responsável, o comandante César Manríquez Bravo, encarregado do centro de prisioneiros improvisado que foi instalado no Estádio Chile a partir do dia 12 de Setembro de 1973. A resolução não foi aceita por Joan Jara, a viúva do artista, nem por suas filhas. Ao seu protesto uniram-se as vozes de muitos artistas e intelectuais chilenos. Joan fez um chamado a cada uma das mais de 6.000 pessoas (entre detidos e militares) para que colaborassem com o processo que corria sob segredo de justiça.

Foram colhidos muitos testemunhos que contribuíram para esclarecer os fatos, o que permitiu ao advogado da familia, Nelson Caucoto, apresentar uma petição solicitando ao juiz mais de 90 novas diligências.

O juiz reabriu o caso. A exaustiva investigação realizada envolveu os antigos soldados dos regimentos que estiveram no Estádio Chile, e permitiu identificar os militares que mataram 15 detidos com tiros de fuzil, entre eles Víctor Jara.

No Estádio Chile, um espaço destinado em tempos normais a espectáculos esportivos e artísticos, foram amontoados aproximadamente 6.500 prisioneiros em uma situação caótica. Além do fato do encanamento ter estourado, não havía alimento para os prisioneiros nem para os soldados entre os dias 12 e 16 de Setembro. O Comandante Manríquez, no comando da força militar, impôs a ordem com o terror: colocou duas metralhadoras ponto 50 – usadas na segunda guerra mundial – apontando para os detidos e fez anunciar pelos alto-falantes que aquelas eram as “serras de Hitler, capazes de partir uma pessoa em duas”. Além disso, instalaram potentes lâmpadas que permaneciam ligadas dia e noite para que todos os que estavam no interior do estádio perdessem a noção do tempo. Um ex-soldado declarou que no subterrâneo do edificio funcionários de inteligência das forças armadas submetiam os detidos a interrogatório, mas que não os conheciam nem estavam sujeitos a suas ordens.

A confissão do então soldado José Alfonso Paredes Márquez, que tinha 18 anos naquela época, permitiu reconstruir os atos. Paredes permaneceu longas horas como vigía num dos quartos do subterrâneo.

Em outro lugar do mesmo subterrâneo, Víctor Jara foi longamente barbarizado. Nessas torturas sobressaiu o tenente Rodrigo Rodríguez Fuschlocher quem lhe quebrou as duas mãos com os golpes de coronha de fuzil. Alfonso Paredes viu como um subtenente jogava roleta russa com seu revólver apontado para a cabeça de Jara, e como apertava o gatilho, acabou por disparar o primeiro tiro que lhe atravessou o crânio. Estava presente também o tenente Nelson Haase. Logo depois, o mesmo subtenente, cujo nome não foi revelado, ordenou aos soldados disparar seus fuzis automáticos contra o cantor. A ordem foi cumprida, e segundo o informe da autópsia, o corpo tinha 44 perfurações de bala. Poucos minutos depois, o mesmo suboficial que disparou contra sua cabeça ordenou a retirada do corpo. Chegaram alguns enfermeiros, levantaram o corpo, colocaram-no dentro de um saco e o levaram até a parte traseira de um veículo militar estacionado no pátio externo. O corpo foi achado no dia 17 na parte de fora do Cemitério Metropolitano de Santiago por policiais dos Carabineros que o trasladaram como “não identificado” até o Instituto Médico Legal. Foi graças à atitude heróica do funcionário do registro civil Héctor Herrera, que Joan, a viúva de Jara, teve permissão para entrar no recinto, identificando o corpo.

Comentários
  • ANTONIO ASSIS 3721 dias atrás

    Aproveito para dizer que não sou comunista nem tenho simpatias pela economia planificada. Acredito na Democracia. ABOMINO DITADURAS E TOTALITARISMOS. Odeio regimes que buscam
    a eliminação física dos opositores, sejam de esquerda ou de direita.

  • ANTONIO ASSIS 3721 dias atrás

    O assassinato de Victor Jara foi um, dentre milhares de crimes bárbaros praticados pela ditadura chilena. Como foi possível que um punhado de criminosos tenha tomado de assalto o poder e permanecido tanto tempo governando o Chile ??? Por que os opositores de Allende não esperaram terminar seu mandato, para, através do voto, tirar o socialismo do poder??? A atual democracia chilena deve ser incansável na busca pela identificação e punição dos assassinos que agiram em nome do Estado Terrorista liderado por Augusto Pinochet, autor de crimes contra a humanidade, um dos ditadores mais odiosos e desprezíveis da América Latina.

    • ANTONIO ASSIS 3721 dias atrás

      Deixo aqui minha homenagem ao General Carlos Pratts e sua esposa, a Orlando Letelier e sua secretária americana, mortos em atentados terroristas ordenados pela Ditadura de Pinochet.

      Minha reprovação e repúdio a Richard Nixon e Henry
      Kissinger, apoiadores do golpe e de todas as monstruosidades praticadas pela ditadura chilena.

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