Minha cidade, minha cidade
avermelhada de sol com seus dias longos,
suas noites longas e suas tardes quentes
varridas pelo vento que vem das bandas do rio.
Minha cidade antiga, mastigando seus dias
à luz do verão, à luz da lua batendo nas àguas
do córrego São Miguel.
Cidade marcada de canto de pássaros, mas também
do silêncio dos seus becos e ruas noturnas,
Como o beco do Funil às oito da noite
ou a rua de Baixo ao amanhecer do dia,
Ou mesmo as madrugadas do cais do porto,
do porto da balsa, do porto das canoas
na beirada das barrancas do rio.
Minha cidade
também feita de pequenas tragédias,
de gente pobre e humilhada,
de homens que muito trabalham e pouco ganham,
Mas que ainda assim
cantam suas cantigas, tocam suas violas nos folguedos
da folia de reis, nos festejos do boi de janeiro,
na vertigem dos carnavais.
E também mulheres lavando roupa no rio,
carregando lenha na cabeça,
varrendo quintais, assando biscoito de goma em fornos de barro.
Minha cidade sofrida mas também feliz,
ainda me vejo em tuas ruas, em tuas praias, tuas ladeiras.
Ainda sinto pulsar bem dentro aquelas noites de estrelas
me cegando e me fazendo ver
o sonho bordado com as linhas da esperança.
Comentários
Cláudio, você vê nossa cidade com olhos de antigo; quando leio seus poemas me transporto para lugares que vi e que através de você tomam vestes de domingo de tarde, meio tristes. Parabéns e Avante!
Lindo! Lindo!
Mari, você é muito especial.
Obrigado e um grande abraço.
Lindo! Simples e de uma sensiblidade rara. Lembrei de um verso da Adélia Prado: “Minha mãe cozinhava exatamente: arroz, feijão-roxinho e molho de batatinhas. Mas cantava”.
Sania, obrigado pelo belíssimo comentário. Aquele que sabe sentir, sensibilizar-se com a poesia, é também poeta. Este poema será publicado no meu próximo livro intitulado O Menino A Canoa E O Rio..